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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

A minha mãe reformou-se

A minha mãe reformou-se. Trabalhou durante 44 anos, 40 dos quais no mesmo sítio. Está-me a bater mais a reforma dela do que os meus 30, feitos entretanto. As colegas só foram informadas dois dias antes, ela não queria que se soubesse, porque lhe custam muito as despedidas. Mesmo assim, prepararam-lhe uma surpresa. Ela não aguentou e fartou-se de chorar. Vi um vídeo que alguém filmou da despedida que lhe fizeram e, meu deus, o que ela chorava, o que ela soluçava! Nunca a tinha visto assim! Desmanchei-me a chorar também. Isto assusta-me tanto. Dá-me tanto medo. Medo por ser uma espécie de lembrete bombástico de que a minha mãe está velhota, e oficialmente na terceira idade, e não saber como vai lidar com a reforma. Medo que lide mal e definhe, medo que seja atingida por uma súbita doença que não a deixe usufruir do tempo que lhe resta e não saber quanto tempo será esse, mas que será cada vez mais curto. Medo de a perder. Acho que no fundo é isso. Não sei viver sem ela.

Medo de ser mulher

  • Quando andava no 9º ano, vinha da escola, a um sábado à tarde, na altura andava com ensaios para um musical em que ia participar, e passei por um homem a masturbar-se dentro de um carro. Passei mesmo ao lado, sem me aperceber de nada e, quando de repente o vi, o gajo estava a olhar para mim. Começou a chamar-me. Eu desatei a correr, só parei em casa. Os meus pais repararam que estava estranha e disseram-me que eu estava esquisita, mas não me perguntaram porquê, nem se tinha acontecido alguma coisa, e eu também não lhes disse.

 

  • Quando tinha uns 13/14 anos, vinha da escola, à hora de almoço, e um velhote veio ter comigo, no meio da rua, e ofereceu-me dinheiro para ir com ele.

 

  • Numa outra altura, por volta da mesma idade, estava a ir para casa e um homem, que tinha um atraso mental, cruzou-se comigo e pôs a mão na minha coxa e apertou-a. Eu continuei a andar, sem parar, e desatei a chorar. Recompus-me antes de chegar a casa e ninguém se apercebeu de nada. Quando contei a um amigo o que tinha acontecido, ele gozou comigo por eu ter chorado.

 

  • No dia em que entreguei a tese, fui beber um copo com uma amiga minha a um café, onde já era costume ir. Estava lá um homem, com uns 40 anos, que não parou de olhar para mim o tempo todo. A dada altura tive de ir à casa de banho e tive de passar obrigatoriamente por ele. Fez questão de me “elogiar”. Quando estava a ir para o meu lugar, voltou a fazê-lo: “meu deus, que…”. Quando me sentei, a minha amiga disse que o gajo me olhou de cima a baixo. Eu estava de calças de ganga, sapatilhas e uma camisola preta larga de meia manga. Nessa mesma noite, estávamos a ir para o carro, para irmos embora, e passou um carro por nós, o gajo abrandou logo que nos viu e abordou-nos. Não tinha boas intenções.

 

Daqui a 2 semanas, vou fazer um curso e, para ir, vou ter de apanhar um autocarro a uns 20 minutos de minha casa. E, para voltar, tenho de o apanhar numa rua que nem sequer conheço e voltar a sair a 20 minutos de minha casa. O curso é em horário pós-laboral, ou seja, isto tudo vai acontecer de noite. Estou, desde que me inscrevi, a bater mal com isto. Tenho muito medo. Detesto andar sozinha à noite, na rua. Morro de medo. E se alguém me segue e me faz alguma coisa?