Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Pai, não sou eu que estou mal. És tu.

O meu pai faz anos. Fez questão de me dizer, várias vezes, que não queria festa de anos. Está chateado. Chateado connosco. E eu estou chateada com ele. Embora ele não saiba. Mais que chateada, estou magoada.

 

O meu pai acha que o dar-nos tudo é pagar as nossas coisas. Esquece-se é que não somos robôs. Que temos dons, sonhos e vontades que ele não pode controlar. Que não nascemos para cumprir as expectativas dele. Que o que ele acha que é o melhor para nós e que o faria feliz, a maior parte das vezes, não entra em lado nenhum na nossa vida. Porque não tem nada a ver connosco, porque não gostamos, porque não nascemos para isso, ponto. O que eu dava por ter um pai compreensivo e que me apoia. Nunca tive. Nunca terei.

 

Nunca apoiou a minha decisão de estudar comunicação. Queria à força toda que fosse para direito. E a luta que foi para mudar de ciências para humanidades, no secundário. Nunca, em 5 anos de curso (licenciatura e mestrado), me perguntou como é que estava a correr e se eu estava a gostar. Agora, já com tudo terminado, com boa média e sem nunca ir a recursos, faz questão de continuar a mostrar que não está feliz com as minhas escolhas. Acha que nunca vou conseguir fazer nada de jeito com a área que escolhi. Posso não ter um emprego das 9h às 17h, mas, para todos os efeitos, estou a trabalhar na minha área. E, de vez em quando, vou fazendo uns biscates à parte para juntar dinheiro. Nem a isso ele dá valor.

 

É triste crescer com uma pressão estúpida para ser a melhor em coisas que nunca gostei. Ter de pôr de parte aquilo em que sou boa e que me dá gozo, porque para ele não é aceitável ou digno. É até de baixo nível. Não gosta que nos contentemos com pouco. Esquece-se que o que é pouco para ele, para nós é tanto.

 

Continua preso ao passado e recusa-se a abrir os olhos. Para ele, empregos dignos continuam a ser os de antigamente. O meu não entra de todo nessa lista. Magoa-me muito que esteja constantemente a relembrar-me que sou e somos uns falhados para ele. Faz questão de estar sempre a dizer que o grande desgosto da vida dele é não ter um filho médico. Se ele que veio do nada o conseguiu ser, nós que tivemos tudo tinhamos mais do que obrigação de o ser também.

 

Mas pai, não sou eu que estou mal. És tu. Tu que insistes em ser um pai ausente. Tu que não falas connosco, a não ser para "ralhar". Que não dás carinho. Que não te esforças por ser compreensivo. Que nunca soubeste o que é apoiar. Tu que contribuis para que seja insegura e não tenha confiança nenhuma nas minhas capacidades. Tu que, continuamente, mostras que nunca serei suficientemente boa para ti. Tu que achas que a nossa obrigação é cumprir as tuas expectativas. Tu que achas que te devemos a nossa felicidade e sanidade mental. Tu que tens uma percepção de amor distorcida e, por muito que tentemos mudá-la, tu recusas deixar-te mudar.  Tu.

 

Quem me dera que não fosses médico.

 

 

"Acho que às vezes os pais querem tanto o sucesso dos filhos que acabam por não se aperceber que a felicidade está no livre-arbítrio deles e no incutir da confiança. Eles não têm que corresponder a uma vontade dos pais. Percebes? Está tudo retorcido." Manel Cruz, 7 de janeiro de 2018, Observador

 

 

28 anos de casados

Os meus pais fizeram este domingo 28 de casados. Para tristeza da mãe, o meu pai nem se lembrou. Foi passear sozinho e não a deixou ir com ele. Voltou muito contente com as relíquias literárias que tinha conseguido arranjar, e a continuar sem se lembrar.

 

Entretanto a minha mãe contava-me como tinha sido triste o dia de casamento até à hora de casar.

 

Estar casado não é para qualquer um. É preciso gostar mesmo muito para se ultrapassar estas falhas, que para um podem ser pequenas, mas para o outro são dolorosas. Mas é isto o amor? É só haver esforço da parte de um? Acho que o meu pai não tem consciência da mulher que tem ao seu lado. Ela põe sempre a felicidade e necessidades do outros acima das suas e é incrível como ele nunca reconhece o seu valor. 

Novo hóspede

A minha casa recebeu no sábado um novo hóspede, um que na verdade nunca me tinha passado pela cabeça ter. Pois bem, o meu irmão lembrou-se e trouxe um gatinho bebé que uma amiga lhe deu. Trouxe para ficar e não disse nada a niguém. Eu que não sou nada pessoa de gatos, mas de cães, na altura não achei grande piada, mas agora confesso que  já estou rendida ao bichano. É super amoroso.

 

Apresento-vos o Stevie:

 

Pai retrógado

Ontem, fui sair com os meus amigos para celebrar o aniversário de um deles. Foi a primeira vez, desde que o semestre começou, que saí. Como houve uns compromissos antes que atrapalharam os horários de toda a gente e como hoje era feriado, só nos encontramos às 00h15. Como já não tenho aulas nem testes, só entregas de trabalhos, como nos encontramos tão tarde e como já não saía há tanto tempo, não tinha intenções de chegar cedo a casa. Dito e feito, cheguei tarde como já estava a contar. Vem o meu pai há bocado resmungar comigo por causa disso e depois de tanto mandar vir, como é que termina o discurso? Com a frase "Tu não és um rapaz!"

 

Não posso chegar tarde a casa porque não sou rapaz. Porque claro, fui eu que escolhi nascer rapariga. Tanta coisa que podia ter dito para argumentar e veio com a pior saída possível. Fico burra com isto.

 

Quando era míuda, o meu pai foi a um congresso, como bom congresso que foi, chegou de lá cheio de tralha. Entre a tralha havia um baralho de cartas e ele perguntou-nos a nós, filhos, quem é que queria ficar com ele e eu disse que queria claro. Que me respondeu ele? "Tu? Mas tu és rapariga, as raparigas não jogam às cartas!" e não mas deu, deu-as a um dos meus irmãos rapazes.

 

Não só não posso chegar tarde a casa porque não sou rapaz, como também não posso dizer palavrões, nem sequer jogar às cartas. Eu fico parva.

Deitou tudo a perder

Tenha plena consciência de que para primeiro post do ano é uma deprimência, mas já estou para escrevê-lo há uns dias. E tem de ser escrito, para me poder libertar um pouco desta tensão, deste stress, desta violência emocional...

 

Nunca, em dois anos e meio de existência deste blog, tinha falado das crises que, por vezes, acontecem naquilo a que chamo casa. 

 

Já tinha referido sim, que não sou filha única e que tenho três irmãos mais velhos. Somos uma familia de gente louca, e não digo isto num sentido cómico, pelo contrário, digo-o no sentido mais sério da palavra. 

 

Os meus irmãos, são os três loucos, sempre a arranjar confusão. Já foram os três a tribunal, cada um por um motivo diferente. Um deles é obsessivo-compulsivo, de vez em quando tem ataques de fúria e destrói tudo à volta dele. Normalmente, estas crises dão-se por motivos de dinheiro.

 

Acontece que, estes ataques, para além de serem demasiado frequentes, e completamente evitáveis, se ele tomasse os comprimidos, como era suposto, não eram a única coisa má que este meu irmão fazia. Depois de muitos anos a aturar estas merdas, o meu pai chegou a um ponto inevitável. Tinha de pôr um ponto final a isto, que não era saudável para ninguém. A gota de água acabou por acontecer, ao fim de tantas oportunidades que o meu irmão decidiu desperdiçar. Um dia, o meu pai descobriu que o meu irmão lhe andava a roubar coisas para depois as vender e ganhar algum dinheiro. O copo transbordou. O meu pai pô-lo fora de casa. Demorou mais de um ano até se voltarem a falar. Acabou por acontecer nos anos do meu irmão, em Agosto de 2012.

 

Entretanto, parecia correr tudo bem. Ele voltou a ir lá a casa com mais frequência. Voltou a passar as festas - Páscoa, Natal, Ano Novo e aniversários - connosco. Ganhou a independência que queria, mas estava de novo ligado a nós, ao meu pai. 

 

Mas nem tudo eram rosas. Há precisamente um ano atrás, um amigo dele foi levado pela policia para a esquadra e mais tarde a tribunal, por culpa do meu irmão. Foi no dia de passagem de ano. Estavam perto da praia, entre amigos a beber, a divertirem-se. Mas ele e outro amigo excederam os limites e começaram a insultar os agentes da policia que se encontravam perto deles a mandar parar os carros, numa operação Stop.

 

Deu-se início a uma nova temporada de borrada, que entretanto acalmou.

 

O último episódio deu-se no passado domingo, dia 29 de Dezembro de 2013. Veio cá a casa pedir dinheiro à minha mãe. Queria 50€ na mão. A minha mãe deu-lhe 10€, e o quê que ele fez? Rasgou a nota, destruiu interruptores, arrancou o intercomunicador da parede, foi à sala pegou numa cadeira para atirar ao outro meu irmão que entretanto acordava no sofá. Começaram os dois à pancada. Entretanto eu, que também estava meia a dormir ouvi aquele basqueiral todo e fui ver o que estava a acontecer. Mais uma cena de pancadaria. É triste. É triste que depois de tanta merda, depois de finalmente ter recomposto a vida dele e ter feito as pazes com o meu pai e connosco tenha deitado tudo a perder. Aqui a estúpida, não pensou e meteu-se no meio dos dois a separá-los enquanto berrava "Por favor, por favor, para". Resultou, que ele depois lá parou, insultou a minha mãe e foi-se embora a dizer que ia destruir o carro. 

 

Uns minutos mais tarde, voltou, trazia com ele a chave do carro e a chave da porta de baixo do prédio. Soube depois, que no intervalo de tempo entre o ele ir embora e o ter voltado, viu o meu irmão na rua, saiu do carro, onde estava, tirou o cinto das calças para lhe bater e lá recomeçou a pancadaria. Como acabou não sei, mas como estavam lá uns amigos deles, deduzo que tenham sido eles a separá-los.

 

Conclusão: Como era óbvio não passou o ano novo connosco. O meu pai proibiu-o de tão cedo voltar a pôr os pés cá em casa. Voltou-se ao passado. Deitou tudo a perder.

 

E pronto, é isto.

Avô?! Avó?!

Ontem pensaram que o meu pai era, na verdade, meu avô. Senti-me um bocado mal. Não se deixem enganar pelo cabelo branco, porque em espírito, ele é um jovem!


Já me aconteceu semelhante, mas com a minha mãe. Quando andava no ballet, no terceiro ano, a minha mãe foi-me buscar e uma rapariga perguntou: "Quem é essa senhora "Meisiza", é a tua avó?". A minha mãe ouviu e, na altura, tinha quarenta e poucos anos, mas já tinha brancas. Coitada, ficou de tal maneira traumatizada que, a partir daí, começou a pintar o cabelo.



Merda, merda, merda

Sinto-me uma merda, houve merda em minha casa e fui uma merda para o meu pai. Mas teve que ser, para o fazer abrir os olhos para as merdas que se passam e ele não vê. Já chega disto, estou farta, farta, farta. Até já considerei sair de casa e já houve mesmo quem me aconselhasse a fazer isso mesmo e uma coisa é certa, já estive bem mais longe disso.

Pensei no pior

Hoje pensei no pior. Íamos passar o fim de semana da Páscoa fora, mas os planos foram alterados. O meu pai começou a vomitar sangue e a minha mãe e o meu irmão foram levá-lo ao hospital. Também queria ter ido. De cada vez que o telemóvel tocava, pensava no pior. Mas ficou tudo bem, dentro dos possiveis. Já era a terceira vez que o meu pai ía para o hospital. As duas primeiras vezes tinham sido por causa do coração, desta vez foi por causa dos pulmões.

 

E pronto, é nestas situações que uma pessoa pensa no pior, e chega à conclusão que as conclusões a que tinha chegado anteriormente, não estavam correctas. No outro dia, atrevi-me a dizer que a minha mãe me fazia mais falta que o meu pai, após toda esta situação, e de verificar que não é verdade, porque ambos me fazem falta, igualmente, embora de diferentes maneiras, sinto vergonha de mim própria por ser tão cruel.