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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Senhor, me dê paciência, para aturar o meu patrão

Se, no início, senti que tinha voz e que a minha opinião importava, agora, voltei a ter medo de abrir a boca. Está sempre mal disposto, sempre na iminência de se passar. Se pergunto alguma coisa, que para ele é óbvia, diz-me "já devias saber isso", "essa pergunta é estúpida", "perdeste uma boa oportunidade para ficares calada" e, ainda, "faz mais e pergunta menos". No outro dia, passou-se, porque me deu uma tarefa, no entender dele fácil, mas que, para mim, não era assim tão fácil e, em vez de lhe perguntar alguma coisa ou de lhe pedir ajuda, tentei resolver por mim. Acabei por demorar muito tempo a fazer algo, que podia ter sido feito em pouco tempo. E, não lhe perguntei nada, porque não queria levar com uma das respostas de merda dele, nem levar com uma explicação que me deixa ainda mais confusa, como é seu apanágio, nem levar com uma resposta torta e ficar-me a sentir a pessoa mais burra à face da terra. Mais, já no fim, quando já tinha terminado o trabalho, e depois de ele me dizer que estava bem feito, é que me veio explicar como se fazia. Tive que respirar fundo para não lhe responder "obrigada, mas essa explicação tinha dado jeito no início, e não agora, que já descobri como se faz e que já está feito!".

A cada dia que passa, encontro paz no pensamento de que o fim do estágio se está a aproximar. Neste momento, faltam, precisamente, 4 meses para isto acabar. Sim, estou a aprender imenso. Tirando o patrão horrível que tenho, tem sido uma experiência hiper enriquecedora, tenho tido oportunidade de viver coisas fixes, de conhecer pessoal fixe, de estar em contacto com empresas sobre as quais nada sabia, de abrir horizontes. Mas, sinto que fiquei mais atada do que era, que estou a perder discernimento e que a minha paz está a chegar a níveis negativos.

Uma segunda-feira destas, cheguei ao gabinete e percebi logo pelo "bom dia" dele, que havia alguma coisa de errado. Foi mais seco e antipático do que o costume, mas ao meu colega, que chegou com 20 minutos de atraso, deu-lhe o olá mais afável do mundo e ainda mandou uma graçola para se rirem os dois. Evitei ao máximo qualquer contacto com ele. Passado umas horas, olhou para mim com um olhar fulminante e disse-me que fiz uma asneira. Perguntei-lhe onde, porque não me lembrava mesmo de a ter feito, e ele respondeu-me inflamado "eu é que não fui de certeza!". Mas eu disse que foi? Eu só perguntei onde tinha sido, para poder ver no meu computador a dita asneira e garantir que não a voltava a repetir.

Uma altura, passou-se comigo, por causa de uma porcaria de uma lente e ainda me disse "e não olhes para mim com essa cara, como se eu não tivesse razão nenhuma no que estou a dizer!". Eu estava em silêncio, a ouvi-lo e a tentar não mostrar qualquer tipo de reacção, a rezar para que ele se calasse. Engoli em seco, para não começar a chorar de nervos, e respondi-lhe "é a minha cara, o que queres que faça?!" e a namorada dele, que também lá estava, interviu e disse "alguém acordou mal disposto da sesta que fez de tarde", só para acalmar os ânimos. Passado dez minutos, já estava calminho e a mandar piadas. E eu ainda sorri, só para não contribuir mais para o ambiente pesado, nem levar com piadas machistas de estar sensível e irritada por estar com o período, como já o ouvi dizer de uma outra colega.

Ter de levar com um patrão assim é altamente frustrante e desmotivante. É machista, tem um feitio horrível, acha-se o dono da razão, é hiper confuso e incoerente. Nunca chega a horas a lado nenhum, nem quando temos clientes à espera, e as secas que já me deu! Acha que pode falar como quer, quando me tento justificar, começa a falar por cima em tom jocoso. Explica uma coisa a 10% e espera que uma pessoa entenda a 100%. Percebe sempre tudo ao contrário. Tenho a certeza absoluta que, qualquer pessoa que já tenha trabalhado ali com ele, dirá o mesmo. Depois admira-se que o pessoal se despeça e de ficar sem equipa. Quando comecei a trabalhar ali, as três pessoas que trabalhavam com ele tinham acabado de se despedir e ele tinha chamado de urgência uma antiga colega, com quem tinha trabalhado anos antes (colega essa que, entretanto, também se despediu, porque lhe ofereceram uma oportunidade melhor). Ninguém aguenta muito tempo a trabalhar com uma pessoa assim. Eu estou há 8 meses e só me quero ir embora.

2021

Estágio Profissional na área - Este ano, pela primeira vez desde que acabei o mestrado, em 2017, não tinha como objectivo arranjar trabalho na área. Tinha planeado arranjar um emprego qualquer, mal começasse o ano, numa loja, num restaurante, qualquer coisa que me permitisse juntar dinheiro para ir para fora, por volta de maio. Desde o voluntariado que fiz na Polónia, no final de 2020, que fiquei cheia de vontade de sair daqui e viver no estrangeiro, mas desta vez por um período mínimo de 6 meses. Andava a candidatar-me a alguns voluntariados de longa duração e a ter entrevistas online, quando vi uma vaga para a minha área, numa empresa fixe e muito perto de minha casa. Mandei currículo por descarga de consciência e, no dia seguinte, responderam-me com um convite para uma entrevista presencial. A entrevista ficou marcada para o dia 3 de junho, curiosamente, o mesmo dia em que fiz as pazes com o D. Naquele dia, parece que os astros se alinharam todos para mim. A entrevista correu super bem e, três horas depois, estava com o D, que já não via há 2 anos, a resolver a bem a nossa história. Fiquei com a vaga e, uns dias depois, comecei um estágio profissional como videógrafa. Tudo o que sempre quis. Tenho aprendido muito e há dias em que penso que podia ficar ali muito tempo, que seria feliz. Mas depois há outros, que me dão vontade de mandar tudo pelo ar e me fazem desejar que o tempo passe rápido, para o estágio acabar e eu me passar ao aço dali. Um dia de cada vez.

Aulas de Francês – Um dos objectivos que tinha definido para este ano era chegar ao nível B1 em francês. Não sei se cheguei lá, mas que aprendi muito francês, lá isso aprendi. Durante dois meses, tive aulas de francês online e compensaram muito. Aprendi imenso. Só parei com as aulas, porque comecei a trabalhar. No total, foram três cursos e quase 150h de aulas. Mais o Duolingo, que é uma maravilha de aplicação, para quem quer aprender línguas.

Galiza – Todos os anos, viajo pelo menos uma vez. Este ano, foi a primeira vez, desde há 6 anos, que não viajei de avião para nenhum lado. Fui de carro até à Galiza, com uma amiga e a namorada dela, durante três dias, e adorei. Estive em Baiona, Vigo e nas Ihas Ons e achei tudo tão bonito. Só tive pena de ter sido tão pouco tempo. Tinha ficado na boa uma semana.

D. - Claro que o D. também marcou o meu ano. Mesmo que a nossa história fique por aqui, este ano ficamos a conhecer-nos melhor e vivemos coisas fixes. Já tínhamos estado juntos antes, mas passarmos a noite juntos e acordarmos abraçados foi a primeira vez. Cozinharmos juntos, também aconteceu pela primeira vez este verão. Vermos filmes e séries juntos, também. Foi o mais próximo que tivemos de uma relação a sério.

Banda Sonora - No primeiro semestre, só ouvia uma playlist de músicas que costumava ouvir na Polónia, punha-me sempre bem disposta. Quando a tristeza batia, virava-me para London Grammar. O segundo semestre foi todo para Florence + The Machine. A Florence é a única artista no mundo em cujas letras me revejo. Tem músicas para tudo o que sinto e que quero dizer e não consigo. Termino o ano com a "What kind of man" a tocar em loop.