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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

"Amor" de verão

Em julho, conheci um músico do país vizinho. Ele veio tocar à minha cidade com uma cantora americana e mais três músicos. O concerto foi altamente e, no fim, comprei um cd dele, pedi-lhe para assinar, já que ele estava ali ao lado, e falamos uns 20 segundos. No dia seguinte, partilhei uma instastory do concerto e identifiquei-o a ele e à cantora que ele acompanhou. Ela agradeceu apenas, ele repartilhou, começou-me a seguir e mandou-me mensagem. Eu segui de volta e respondi a agradecer a partilha. E isto podia ter ficado por aqui, mas não ficou.

Ele, às tantas, diz-me "a ver se volto ou se vens tu a ***** (e disse o nome da cidade dele). Coincidência do caraças, horas antes tinha comprado voos e alojamento para a cidade dele, para a minha primeira viagem a solo de sempre! Claro que lhe disse logo que, por acaso, ia mesmo lá e perguntei-lhe se ia ter algum concerto nos dias em que eu ia. E aqui começou toda uma conversa à volta do "não sei se vou estar, deixa ver, acho que sim, afinal acho que não, deixa ver", que evoluiu para um "se estiver aqui, quando vieres, e quiseres, posso-te mostrar algumas coisas e podemos beber um copo, se houver tempo." Ainda lhe pedi dicas da cidade e ele deu-me. Nisto passaram-se umas semanas e, num sábado aleatório, ele mandou-me uma msg só com um emoji aborrecido e eu não percebi logo, mas ele disse-me, então, que não ia estar, quando eu lá fosse, mas que agora tinha ficado com vontade. Aquela conversa do vai/não vai acabou por fazer crescer uma vontade de parte a parte de realmente nos encontrarmos. Ele, então, sugeriu que eu o convidasse a visitar a minha cidade. Eu disse que sim, mas que a minha cidade era pequena, numa manhã ficava vista. Ele sugeriu, então, a minha e mais outra. Eu disse que era um bom plano, mas que estava a considerar ficar mais dois dias na cidade dele. Ele disse que não ia poder na mesma e perguntou-me se eu não podia na semana seguinte.

Fiquei uns dias a pensar naquilo. Ainda por cima, este ano, a empresa onde trabalho fechou três semanas em agosto, uma a mais do que o habitual. A ideia de ficar tanto tempo sem fazer nada, depois de voltar da viagem, estava-me a matar e acabei por lhe dizer que ia ver, talvez desse. Lá me decidi e a minha viagem, que inicialmente era para ter 4 dias, acabou por ter 10, e incluí uma segunda cidade para visitar. Disse-lhe que ia dar e que nos encontrávamos, então, no dia x. A única expectativa que tinha criado era dele me mostrar alguma coisa na cidade e de bebermos um copo.

Em Agosto, como planeado, lá viajei para a cidade dele uns dias, depois fui a outra mais no sul por mais alguns dias, antes de voltar à cidade dele, onde iria terminar a viagem. Quando estava na cidade do Sul, ele foi lá tocar e eu acabei por ficar mais uma noite para ir ao concerto dele, sempre na esperança de que desse para nos encontrarmos no fim. A certeza só veio, quando eu já estava a caminho do concerto. Tinhamos passado o dia a trocar mensagens, a ver sitios para ele ficar nessa noite (caso contrário teria de ir embora com o amigo, mal o concerto acabasse), e havia sempre algum problema com os alojamentos, mas à última da hora lá reservou um sitio. Assim que ele entrou em palco, eu não conseguia parar de sorrir. Estava-me a sentir a gaja mais sortuda do mundo, porque no fim ia beber um copo com ele. E assim foi. Encontramo-nos na esquina da catedral, bebemos dois copos e meio, em dois bares diferentes, conversamos muito. A dada altura, sem eu contar, aproximou-se de mim e perguntou-me ao ouvido "posso-te beijar?". Nem sei em que lingua foi, se em portunhol "puedo te beijar", se em português do brasil "posso beijar você?". Fiquei tão embasbacada que lhe perguntei "A sério? Agora? Porquê?", ele só dizia a sorrir "si, si, porque me gostaria".

Beijamo-nos e acabamos a passar a noite juntos. Nunca me tinha visto noutra, mas o "date" foi incrível e eu senti-me mesmo bem. Ele, em momento algum, me fez acreditar que aquilo era mais do que era. Foi muito honesto e preocupado o tempo todo, se eu estava bem, se estava confortável. Fez-me sentir bonita, desejada, sexy. Nunca me tinha sentido assim. Achei que estava louca por me meter naquilo, mas estava de férias sozinha pela primeira vez, tinha conhecido aquela pessoa interessante com quem tinha química, não estava com ninguém há quase 3 anos, e arrisquei viver aquela aventura.

Na manhã seguinte, voltei para a cidade dele, mas ele ainda ficou no sul até à noite. Combinámos mais tarde, estarmos juntos uma última vez, quando ele voltasse. Estivemos e foi bom. Já não houve o encantamento todo de antes, foi muito mais terra a terra, o que foi óptimo, para me ajudar a lidar com a situação. Precisava de conhecer a outra realidade dele, o dia-a-dia, e não só as histórias incríveis de vida que ele tinha e que me contara naquele jogo de sedução, duas noites antes. 

A despedida acabou por ser meia atabalhoada. Ele estava à espera de um telefonema do irmão, para o ir buscar ao aeroporto, que chegou num timing complicado. Vestimo-nos à pressa, chamei um uber, ele disse que se eu quisesse podia esperar em casa dele, mas que ele tinha mesmo de ir. Não foi preciso. O uber chegou, ele acompanhou-me até lá, deu-me um beijo, um abraço e desejou tudo de bom para a minha vida.


Quando voltei para Portugal, não conseguia pensar noutra coisa. Para além da experiência da viagem a solo ter sido incrível, tinha tido aquele fugaz maravilhoso com aquele homem lindo e talentoso, bastante mais velho do que eu, quase 20 anos. Ele tinha dos sorrisos mais bonitos que vi na vida. Não queria nem pensar se para ele isto era uma prática comum, imagino que sim. Mais do que a ele, fiquei agarrada ao que ele me fez sentir. 

Quando me meti nisto, não sabia como iria lidar com tudo no futuro. Achava que mal, porque sou muito mais emocional do que carnal, mas arrisquei na mesma, achei que valia o risco e não me arrependo. De volta à realidade, o travel blues atingiu-me forte e a tristeza bateu-me muito, só de pensar que nunca mais o ia ver na vida, nem sentir o que ele me fez sentir. Foi como se estivesse a fazer um luto. Agora, parece que não passou tudo de um sonho. Concluo que a história perfeita é aquela que começa já a saber que vai acabar. Isto foi perfeito, porque foi maravilhoso e acabou, não há por onde estragar. Mas, porra, mata-me que tenha acabado para sempre.

Ainda não foi desta

Há dois meses, comecei a falar diariamente com uma pessoa que já conhecia de vista há um ano. Saímos algumas vezes, entretanto, sobretudo em passeios noturnos pelo centro da cidade, a conversar. No penúltimo, beijamo-nos, com muitos amassos. Depois disso, durante dias não se falou do assunto e, quando voltamos a encontrar-nos, foi como se nada tivesse acontecido. Só voltamos a falar sobre isso depois, já com flirt à mistura.

Depois disso, ele esteve fora, de férias e em trabalho. Já não nos víamos há umas semanas e, nos poucos dias em que cá esteve, nem lhe passou pela cabeça ver-me, nem combinar nada comigo, mesmo sabendo que ia voltar a estar fora outra longa temporada. Já eu não pensava noutra coisa.

Continuávamos na mesma a falar todos os dias, mas em menor quantidade (era sempre assim, quando ele estava fora em trabalho) e das últimas vezes, eram só quase monólogos dele sempre a queixar-se de algum stresse do trabalho, eu já não sabia o que mais dizer. Nisto, postou uma fotografia dele a andar de mota com a ex. Acho que não era recente e mais de metade das caras estavam cortadas, mas via-se que eram eles.

No dia em que isto aconteceu, despejou em mim um mega queixume laboral e só voltou a responder-me no dia seguinte de manhã. Só lhe respondi à noite e depois disso, da parte dele, só silêncio.

Já estive muito confusa com tudo. Depois, à medida que os dias foram passando e o silêncio aumentando, percebi. Todas as situações que aconteceram, e que me deixaram de pé atrás, era só ele a tentar dizer-me que não estava para aqui virado. Eu era só uma distração porreira, que ele encontrou, para o ajudar a lidar com o fim da relação, que aconteceu em fevereiro. A cabeça dele continua ocupada só com ela. Ele nunca descolou e eu percebo. Ele queria namorar com ela, que é bastante mais velha do que ele, e ela andava com ele, mas não o assumia. Disse-me que, quando acabaram, já queriam os dois que acabasse, mas não é o que se diz sempre, quando acaba? Que queriam os dois?

Nos primeiros dias, senti que me fez um favor. Já andava a saturar de tantos queixumes e da demonstração de tão pouco interesse por mim e pela minha vida. E tinha vindo a perceber, que a maturidade também não era muita. Não estávamos na mesma fase, nem temos o mesmo estilo de vida, e os meus objectivos actuais não podiam diferir mais dos dele. Ainda assim, continuava disposta a conhecê-lo melhor. E, se não desse para haver nada, que ao menos ganhasse ali um amigo porreiro, com quem ainda podia aprender cenas da área. Mas ele achou que o silêncio era a melhor saída.

Quando começamos a falar, e eu estava toda encantada, comentei com uma amiga que já merecia uma história fixe. Ela torceu por isso, mas ainda não foi desta. Só gostava que tivesse sido directo comigo, em vez de agir assim. Ainda por cima, ele sabia da minha última história e de como acabou e fez-me o mesmo.

A parte boa de só ter histórias fracassadas é que se torna mais fácil de lidar. É só mais uma. O ghosting destrói a alma a uma pessoa, mas depois do último que me fizeram, este é quase insignificante. 

Pensei que estava bem

Pensei que estava bem, mas continuo com a cabeça toda lixada. Não gosto de trabalhar sem parar e não ter tempo para descansar, mas continuo a precisar do trabalho para me salvar. Um dia de folga ainda não é tranquilo. A ansiedade de um possível primeiro date atira-me completamente ao chão. Quero as condições perfeitas, sobretudo mentais, e não as tenho. E só me dá para chorar e sentir-me uma inútil e querer poder continuar a ser solteira para sempre. O vazio não é fixe, mas é confortável, a ansiedade da novidade dá cabo de mim, deixo de saber ser eu.

Como ele não houve mais nenhum

A primeira coisa realmente bonita que me disseram na vida foi “tens uma aura mesmo bonita”. Dita pelo Kedi que, mesmo passados tantos anos, me continua a encantar como da primeira vez. Tenho memória curta se calhar, para a tristeza que me fez sentir, quando me deu um chuto no rabo e começou a namorar com a amiga colorida, com quem andava antes de me conhecer. E as vezes que fingiu não me ver, para não ter de me cumprimentar, quando estava com ela. E o constrangimento que sentia, quando era obrigado a cumprimentar-me. Era o desconforto em pessoa. Não sei porquê. Fui um erro assim tão grande a ponto de causar tanto embaraço?

Ele é a pessoa com quem mais sonhei até hoje. Mesmo em alturas em que já nem me lembrava que ele existia, o meu inconsciente fazia questão de me lembrar de que, como ele, não houve mais nenhum na minha vida, ninguém se comparava sequer. Não faz ideia do quanto me marcou.

Tinha 20 anos, quando o conheci, ele tinha 28, e o nosso primeiro date foi passado uns meses, um dia depois de eu fazer 21. Não sabia que era date, ia só beber um copo com um amigo novo, alguém por quem estava absolutamente encantada, mas não sabia ainda que era recíproco. Confessou-me, naquela noite, que o convite para tomar café não era só porque sim, tinha sentido alto clique comigo, coisa que, antes de mim, só lhe tinha acontecido uma vez, com uma ex-namorada com quem esteve muitos anos, o grande amor da vida dele. Declarou-se, mas também me disse, que não podia estar comigo, enquanto não resolvesse a história colorida em que estava metido. Demorou 1 mês a resolver e eu esperei, pacientemente.

Fui tão feliz naquela noite. Senti uma cena que nunca tinha sentido e que nunca mais voltei a sentir. Uma reciprocidade bonita, que andava há meses a ser disfarçada de ambos os lados. Ele disse-me, aliás, que durante meses fez de tudo para me evitar, até ter deixado de o fazer. Senti felicidade extrema. Depois disso fez questão de me apresentar aos amigos todos dele, muito antes de termos dado sequer o nosso primeiro beijo.

A história acabou precocemente, havia um desfasamento muito grande entre os dois. Não era só a idade, era também o facto de eu ser muito inexperiente e só ter estado com uma pessoa e ele já ter muita pedalada e ter estado com muitas. Sempre me culpei, por ele me ter deixado. Por ser tão acanhada, por não ter sido capaz de estar à vontade para ser eu perto dele. Quanto mais próximos, mais eu me fechava. Gostava tanto dele, queria tanto que desse certo, que tinha medo de abrir a boca e dizer porcaria que o fizesse perder o interesse. Ele era daquelas pessoas que toda a gente queria por perto.

Entretanto, a vida aconteceu e nisto passaram-se 8 anos. Tenho agora a idade que ele tinha, quando nos conhecemos. Continuo a comparar todo e qualquer interesse romântico meu a ele. Fantasio constantemente com um café que nunca vai acontecer. Sinto-me ridícula, por não conseguir disfarçar a felicidade de o ver, quando calha de nos cruzarmos. Meu deus, como eu queria que pudessemos ser amigos a sério, mas ele não está para aí virado. Eu não sou a mesma pessoa que era há 8 anos e ele, imagino, muito menos.

A mãe dele morreu há uns meses. Suicidou-se. Quando soube, semanas depois de ter acontecido, não consegui não lhe mandar mensagem. Não dizia nada, não havia nada para dizer, só queria que ele soubesse que lamentava e que sentia muito por ele. Achei que um coração branco o diria, sem ser invasivo. Ele agradeceu. Semanas depois, cruzámo-nos, já não nos víamos há uns 2 anos. Lembrei-me, no dia seguinte, que ele tinha feito anos nessa semana e mandei-lhe mensagem. A data da última, tirando o coração, era de 2016. Falámos por breves momentos, um diálogo curto, mas fixe, e ficámo-nos por aí.

Não faço ideia de como é que a cabeça dele está. Acho que sei, que nunca se recupera de uma tragédia destas. Se fôssemos amigos, checava-o de vez em quando, para ver como estava, mas não somos e eu não tenho esse direito. Não sei se é saudade ou nostalgia que sinto, quando penso nele, sei que entre nós não era para ser, mas que a minha vida seria muito mais rica se ele fizesse parte dela. Mas como isso nunca vai voltar a acontecer, resta-me desejar que ele fique bem e continuar a fantasiar. Acho que nunca fez mal a ninguém. Da parte dele, acho que o embaraço ainda lá está, da minha o ser rídicula é inerente.