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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Vai ser a covid a ditar o fim da nossa história?

A pior coisa que podia ter acontecido, aconteceu. Estou com covid e infectei o D. Só fui fazer o teste, porque o meu patrão testou positivo. No entanto, o nosso colega, a pessoa que andou doente nestas últimas duas semanas e que mais sintomas teve, testou negativo. Fez um teste por semana, desde que ficou doente, e deu sempre negativo. Não sei se fui eu que infectei o meu patrão ou se foi ele que me infectou a mim. Não senti nada de anormal. Andei com dor de garganta, no início da semana, mas na terça, depois de uns gargarejos com borato de sódio, passou e fiquei fina. Tinha apanhado muito frio, uns dias antes. A água quente falhou-me durante o banho e estive uns 10/15min ao frio, enquanto a minha mãe mudava a botija. Só que a botija estava estragada e o esquentador não ligava. Já para não falar do gelo que é a minha casa e do facto de estarmos no inverno. No fim de semana, andei meia constipada, mas era só isso, ranho.

Era quase certo que, este ano, ia apanhar covid. Mesmo tendo todo o cuidado do mundo. Andei dois anos a passar pelos pingos da chuva. Já tinha tido o meu pai infectado, em 2020, logo durante o primeiro confinamento, e não fiquei. A minha mãe esteve infectada, há dois meses, e também não fiquei. Agora estou eu e eles não. E, pelo caminho, infectei o D.

Estive com ele na sexta, dois dias antes de ele voltar para o país onde trabalha. Ele fez teste antes de ir e deu negativo, mas hoje voltou a fazer e já deu positivo. Sinto-o furioso comigo. Já me desfiz em pedidos de desculpa. Os meus amigos dizem-me que, da maneira que isto está, com esta variante ómicron, ninguém vai escapar e ficar chateado é só parvo. Eu sei que não é e espero que ele não tenha infectado ninguém, muito menos a família dele. Eu não tive comportamentos de risco, a minha vida é só casa-trabalho, trabalho-casa. Ao fim de semana, não saio de casa. Não estou com os meus amigos há séculos, ainda há dias tinha a festa de anos de uma amiga e não fui, entre outros motivos, porque ia muita gente.

Sinto-me horrivelmente mal. Ainda por cima, fui eu que lhe mandei msg a perguntar se não arranjava 5min para um abraço de boa viagem. Depois de ter ido embora, da outra vez, sem se despedir, decidi tomar iniciativa. Maldita a hora. Como é obvio, não o infectei consciente de que o estava a fazer, não foi propositado. Devia ter feito um teste, antes de ir ter com ele? Se calhar, devia. Mas a minha vontade de me despedir dele e de o ver uma última vez, bloquearam-me qualquer pingo de racionalidade. Facilitei a achar que não era nada. Mas, ainda há pouco tempo, tive uma constipação muito pior que isto. Ele tem o direito de estar chateado e de achar que fui uma irresponsável de merda. E tem alguma razão. E, por isso, não caibo em mim de tristeza.

Não abriu a minha última msg e já sei que, nos próximos meses, a não ser que alguma coisa má aconteça, não me vai dirigir a palavra. Depois disto, não me vai querer ver nem pintada. Nunca na vida me vai convidar a visitá-lo. Só quero que esta semana passe rápido, que fique tudo bem, e que o tempo acalme os ânimos. Na semana em que mais precisava de trabalhar e de manter a cabeça ocupada, estou em isolamento. A minha cabeça não pára de imaginar cenários maus, como forma de preparação. Será que, depois de tudo, vai ser este o motivo da rutura definitiva entre nós? Se não sobrevivermos a isto, então, não é mesmo para ser. Já andava mais frio e distante, antes de ir, isto provavelmente foi só a gota de água.

Aliás, sábado fartei-me de chorar. Na sexta, falamos sobre o trabalho e basicamente ficou bem patente que uma relação séria nunca na vida seria possível nos próximos dois anos, no mínimo. E esta situationship não se aguenta tanto tempo. Se calhar, só preciso de amor próprio e esta situação toda vem só trazer-me clareza.

2021

Estágio Profissional na área - Este ano, pela primeira vez desde que acabei o mestrado, em 2017, não tinha como objectivo arranjar trabalho na área. Tinha planeado arranjar um emprego qualquer, mal começasse o ano, numa loja, num restaurante, qualquer coisa que me permitisse juntar dinheiro para ir para fora, por volta de maio. Desde o voluntariado que fiz na Polónia, no final de 2020, que fiquei cheia de vontade de sair daqui e viver no estrangeiro, mas desta vez por um período mínimo de 6 meses. Andava a candidatar-me a alguns voluntariados de longa duração e a ter entrevistas online, quando vi uma vaga para a minha área, numa empresa fixe e muito perto de minha casa. Mandei currículo por descarga de consciência e, no dia seguinte, responderam-me com um convite para uma entrevista presencial. A entrevista ficou marcada para o dia 3 de junho, curiosamente, o mesmo dia em que fiz as pazes com o D. Naquele dia, parece que os astros se alinharam todos para mim. A entrevista correu super bem e, três horas depois, estava com o D, que já não via há 2 anos, a resolver a bem a nossa história. Fiquei com a vaga e, uns dias depois, comecei um estágio profissional como videógrafa. Tudo o que sempre quis. Tenho aprendido muito e há dias em que penso que podia ficar ali muito tempo, que seria feliz. Mas depois há outros, que me dão vontade de mandar tudo pelo ar e me fazem desejar que o tempo passe rápido, para o estágio acabar e eu me passar ao aço dali. Um dia de cada vez.

Aulas de Francês – Um dos objectivos que tinha definido para este ano era chegar ao nível B1 em francês. Não sei se cheguei lá, mas que aprendi muito francês, lá isso aprendi. Durante dois meses, tive aulas de francês online e compensaram muito. Aprendi imenso. Só parei com as aulas, porque comecei a trabalhar. No total, foram três cursos e quase 150h de aulas. Mais o Duolingo, que é uma maravilha de aplicação, para quem quer aprender línguas.

Galiza – Todos os anos, viajo pelo menos uma vez. Este ano, foi a primeira vez, desde há 6 anos, que não viajei de avião para nenhum lado. Fui de carro até à Galiza, com uma amiga e a namorada dela, durante três dias, e adorei. Estive em Baiona, Vigo e nas Ihas Ons e achei tudo tão bonito. Só tive pena de ter sido tão pouco tempo. Tinha ficado na boa uma semana.

D. - Claro que o D. também marcou o meu ano. Mesmo que a nossa história fique por aqui, este ano ficamos a conhecer-nos melhor e vivemos coisas fixes. Já tínhamos estado juntos antes, mas passarmos a noite juntos e acordarmos abraçados foi a primeira vez. Cozinharmos juntos, também aconteceu pela primeira vez este verão. Vermos filmes e séries juntos, também. Foi o mais próximo que tivemos de uma relação a sério.

Banda Sonora - No primeiro semestre, só ouvia uma playlist de músicas que costumava ouvir na Polónia, punha-me sempre bem disposta. Quando a tristeza batia, virava-me para London Grammar. O segundo semestre foi todo para Florence + The Machine. A Florence é a única artista no mundo em cujas letras me revejo. Tem músicas para tudo o que sinto e que quero dizer e não consigo. Termino o ano com a "What kind of man" a tocar em loop.


Deixar para não ser deixada?

O D. (daqui e daqui e que tem toda uma tag dedicada) voltou. Depois de 1 ano e meio sem nos falarmos e de 2 sem nos vermos.

Quando estava na Polónia, em dezembro de 2020, ligou-me pelo whatsapp. Fiquei incrédula (no final de 2019, tinha-o bloqueado em todo o lado,  na altura nem tinha whatsapp) e bloqueei-o. Em Fevereiro, uma amiga em comum mandou-me msg a dizer que ele lhe tinha ligado, para lhe pedir para falar comigo. Que me queria pedir desculpa, mas que tinha percebido que eu o tinha bloqueado em todo o lado. Depois de muito matutar, acabei por desbloqueá-lo. Mandou-me mensagens grandes a pedir desculpa e a justificar o lado dele. Respondi-lhe uma vez a dizer-lhe como me tinha feito sentir e nunca mais voltei a dizer nada. Ao fim de alguns meses, falamos pessoalmente. Não nos víamos há 2 anos e fizemos as pazes nesse dia. E, também nesse dia, deixei de o achar uma besta e dei por mim a ficar completamente apanhada, outra vez. Ele, logo a seguir, voltou para o estrangeiro, onde trabalhava, nessa altura. Mas, já lá, disse-me que tinha tido uma ideia louca, mas que nos podia ajudar a finalmente perceber muita coisa. A ideia era eu ir ter com ele e fazermos um viagem juntos por lá. Queria muito ter ido, mas entretanto comecei a trabalhar e as nossas datas não eram compatíveis. Combinámos passar uma semana juntos, quando ele voltasse a Portugal, em Agosto. Acabámos por só passar 1 dia e meio. E, depois disso, esteve duas semanas sem me falar. Mais tarde, disse-me que se quis distanciar para perceber se se sentia bem comigo e chegou à conclusão que sim. Disse-me que gostava de estar comigo e se sentia bem comigo, mas que, dali a umas semanas, ia de novo para fora trabalhar, durante 1 ano, e uma cena à distância era muito fodida. Passámos os dois meses seguintes juntos, uma vez por semana. Nunca em date, nunca a tomar café, nem a beber um copo, nem a passear, nem a ir ao cinema, nada disso.

Esta dinâmica sempre me angustiou. Sempre quis mais. Não digo um namoro, mas pelo menos algo com sentido, que não se resumisse a cama. Eu sei que para ele sou mais do que isso, falamos imenso sobre isto. E ele pode ter muitos defeitos, mas ser mentiroso não é um deles. Chegou a dizer-me, quando me pediu desculpa, que eu era e continuava a ser uma pessoa muito especial para ele e que era em muita coisa a rapariga ideal para ele.

Independentemente de não dar para termos nada sério, nem à distância, no meu entender, dava perfeitamente para termos muito mais do que isto. Mas, deixei-me estar, porque queria aproveitar ao máximo todos os segundos que pudesse passar com ele.

Foi embora e, nos últimos 10 dias em que cá esteve, não arranjou nem 1h para estar comigo e se despedir. Um mês depois, mandou-me msg a perguntar quando é que o ia visitar. Ainda ponderei e vi voos, os preços estavam absurdos e, sem grande conversa, disse-lhe que estava tudo muito caro e que não compensava. Um mês depois, voltou, nem sabia, mas mandou-me mensagem a perguntar se queria ir ter com ele dali a umas horas, eu perguntei onde e lá nos combinámos. Apanhou-me em casa, entrei no carro, esperei que ele terminasse o telefonema que estava a fazer, para fechar a porta do carro. Fechei-a e, quando ia pôr o cinto, ele inclinou-se para me beijar. Fui a medo, aquilo era inédito, nunca nos tinhamos cumprimentado assim, antes. E não foi um, nem dois beijos, foram alguns, fiquei parva da vida e apeteceu-me dizer "eram tudo saudades?", não disse, guardei para mim. Perguntei-lhe como estava, falámos das nossas mães e fomos até casa dele. Estivemos juntos duas vezes, mas a segunda não correu bem e fomos em silêncio embora. Uma semana depois, mandou-me mensagem a perguntar se estávamos juntos naquela tarde, eu disse-lhe que estava a trabalhar. Ele perguntou-me a que horas acabava e ficamos combinados para depois do jantar. Eram 22h30 e nem sinal dele. Mandei-lhe msg a perguntar se sempre vinha, respondeu-me a dizer que tinha estado a ver o sporting e que ainda ia tomar banho e a perguntar se eu podia no dia seguinte ao final da tarde. Disse-lhe que já podia ter dito e que no dia seguinte trabalhava de manhã à noite. Disse-me que, então, mantinhamos o combinado. Nisto já eram 23h e disse-lhe para cagar, que já era tarde. Ele ficou todo inflamado e respondeu-me torto a dizer que não percebia qual era a minha cena, que nunca tínhamos combinado hora. Disse-lhe que tinha trabalhado o dia todo, que depois do jantar contava que fosse tipo 22h/22h30, que no dia seguinte voltava a trabalhar cedo. Que não estava a reclamar, só estava a dizer que, tendo em conta o dia que tinha tido e o dia que ia ter, já estava tarde para mim. Não me voltou a responder.

Num dia normal, teria esperado o tempo que fosse preciso para estar com ele. Mesmo que trabalhasse cedo no dia seguinte, como era o caso. Mas, naquele dia, não me apeteceu fazer o esforço. Tem uma falta de consideração gigante por mim, deixa-me à espera eternamente, já me deu altas secas para a seguir me deixar pendurada, quando uma simples mensagem bastava para me avisar. E toda a cena de se ir embora sem se despedir e depois voltar e querer retomar de onde ficámos... Epa, aquilo atrofiou-me. E, depois, o só querer estar comigo depois das 23h. Nos dois meses em que estivemos juntos, foi quase sempre assim. Naquele dia não quis. Queria descansar e não me apetecia ter intimidade. 

Mandei-lhe msg a desejar um feliz natal e ele respondeu-me a desejar o mesmo. Mas foi seco, como é sempre. Sinto que continua chateado, embora ache que não tem motivo nenhum para isso. Sinto, o que sempre senti que, a qualquer momento, vou receber uma msg dele, como a que recebi há dois anos, a dizer-me que afinal não quer nada comigo e que não sente nada. E a deixar-me na merda, mais uma vez. 

As minhas amigas mais próximas dizem-me que ele não me acrescenta em nada, que não compensa e que mereço muito melhor. Que sou tão sensível e sinto as coisas de uma maneira tão bonita e estou presa a este penedo. Por estas palavras.

Gosto dele. Vi coisas nele, ainda que em pequenos vislumbres, que me fizeram acreditar que ele vale a pena. Gosto de estar com ele, sinto-me bem, mas, umas horas depois, quando já não estamos juntos, sinto-me super vazia e assim permaneço até voltarmos a estar juntos. Sinto que preciso de anos, para conhecer um pedacinho pequenino dele. O meu coração acelera, desalmadamente, sempre que recebo uma mensagem, na esperança que seja dele a querer estar comigo. Mas, depois, sinto que estou numa "relação" vazia, numa dinâmica que não é saudável, que quero muito mais do que isto. Sinto, muitas vezes, que nem amigos somos. Que ele está agarrado a uma ideia que tem de mim, e que não quer conhecer mais. Por outro lado, sinto que ele me quer conhecer melhor, mas não faz nada nesse sentido. Que eu tenho de aceitar tudo e ele não aceita nada, nem é minimamente compreensivo. Chegou a dizer-me que uma das coisas que o fez recuar, há dois anos, foi eu estar sempre a querer agradá-lo. Mas a verdade é que, quando digo alguma cena que o desagrada, ele passa-se logo.

Não sei se chego ao fim do ano com respostas. Sei que quero começar o ano com a cabeça arrumada e em paz. Não sei se vamos voltar a estar juntos ou se ele, entretanto, me diz que não quer mais. Não quero ser eu a desistir, por muito que sinta, que nunca vamos passar disto e que, sim, mereço melhor. Se desistir, desta vez, é a valer. Não volto. Nunca mais. Não sou uma pessoa carnal, sou emocional. A minha vontade de estar com ele, vem do que sinto por ele.

Enfim, a minha cabeça e o meu coração estão uma confusão.

Eurovisão, tinha muitas, muitas saudades!

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Finalmente, depois de uma espera de dois anos, voltamos a ter Eurovisão. Para mim é o evento do ano, aquele que mais anseio, sempre. Descartei-me de um jantar com amigas, para poder ficar em casa a ver. Sim, é a este nível.

Quanto a Portugal, senti muito orgulho, quando actuaram na segunda semi-final. Eu que, reclamei para o ar, quando os Black Mamba ganharam cá o festival. Foi uma boa chapada. Foi quentinho, soube bem e destacou-se imenso na semi-final em que foi. Na final, continuaram a estar bem e tivemos muitos pontos por parte do júri de cada país, fiquei admirada e muito satisfeita. Arrecadamos um bom 12º lugar, nada mau.

O Malato é que tem razão, o anúncio dos votos é mesmo impróprio para cardíacos.

Queria muito que tivesse ganho a Suíça, achei que ia ganhar a França e, no final de contas, quem ganhou foi a Itália. Fiquei desconsolada.

Não é que a música seja má, que não é. Este ano guardei as primeiras impressões para as semifinais, não fui ouvir nada ao YouTube antes disto. Quis a surpresa e a novidade. Talvez, por isso, não tenha percebido o fascínio todo pela canção italiana.

Quando foi a final, já ia a torcer por uns e nada por outros e estava curiosa pelas canções dos big5 + 1, que ainda não tinha ouvido. A da Alemanha, a de Inglaterra e a de Espanha eram muito fraquinhas. A francesa era muito boa, a dos Países baixos engraçadita e a de Itália, pronto, não desgostei mas, ouvindo pela primeira vez, nunca pensei que fosse ganhar.

Também não percebi o favoritismo da canção de Malta, nem como é que ficou em terceiro na votação do júri. Deus me livre e guarde. Adorei a canção da Ucrânia e, pelos vistos o público também, também gostei da da Finlândia e da Grécia e do refrão da russa. 

Gostei muito do interval act com os vencedores dos anos anteriores, muito bem conseguido.

Tive pena do vendedor do ano passado, Duncan Laurence, não poder actuar ao vivo por estar com covid. E os islandeses a mesma coisa.

Estou contente por este ano, mesmo com o virus, se ter feito o festival. Quando digo que tinha saudades, tinha meeeeesmo saudades. Foi um desconsolo o cancelamento o ano passado. Para o ano, espera-nos Itália. Já estou ansiosa.

"Fingimos que não aconteceu?"

O L. é dos amigos mais antigos que tenho, dos tempos de escola, um gajo altamente, que sempre curti. Fui crush dele, sem saber, durante o secundário e, só na universidade, quando o comboio já tinha partido, é que percebi. 

Nos últimos anos, falávamos 2 a 3 vezes por ano, só para checar o que um e outro andavam a fazer. Eu fui tendo as minhas cenas e ele as dele. Este check up anual foi se mantendo e era fixe, eu gostava desta dinâmica.

No final do ano passado, quando fui para a Polónia fazer voluntariado, começamos a falar mais, o check up passou a ser quinzenal. Uma mensagem dele já me fazia o dia e, claro, começaram os filmes na minha cabeça.

Quando estava na Polónia, disse-lhe que lhe ia trazer uma soplica (vodka polaca) e ficamos de combinar um dia, para a bebermos juntos, quando voltasse. Depois de maus timings e do segundo confinamento, este fim-de-semana, fui até à nova casa dele. Juro, pela minha vida, que não ia com intenções de nada. Ao fim de algumas horas, de muita conversa e álcool, rolaram uns beijos, por iniciativa dele. Tudo para a seguir me dizer, que namorava à distância. Levei um murro no estômago. Depois disto, tenho muitas brancas. Ele disse que só me via como amiga e eu desmanchei-me a chorar. Sei que lhe perguntei "então porquê que me beijaste?", acho que ele não respondeu. Depois começamos a discutir. Discutimos, por nunca termos admitido nada, na altura em que sentimos coisas um pelo outro. Discutimos, por já ser tarde demais. Por termos posto em causa uma amizade tão fixe. E, no meio da choradeira de bêbada, só fiz cenas.

No dia seguinte, acordei com uma ressaca desgraçada, uma dor de cabeça, que deus me livre, e com um peso gigante no peito. Ensaiei possíveis msgs a mandar, acabei por não mandar nenhuma. Foi ele quem mandou msg, a perguntar como estava, eu respondi “Com uma vergonha tão grande, quanto a dor de cabeça com que acordei”. Depois de me dizer, que não tinha porque me sentir assim, propôs: “fingimos que não aconteceu?”.

Como é que me tornei nesta gaja? A gaja com quem os comprometidos traem as namoradas. A gaja com quem nunca ninguém quer nada sério. A gaja a quem acham graça, quando são chavalos, e com quem depois, em adultos, matam a curiosidade, sendo sacanões. Não sei o que há em mim que leva os gajos a achar, que estou super na boa com cenas casuais. Não estou. Nem quero. Longe vai o tempo da descoberta e das asneiras. Só quero gostar de alguém, que goste de mim. Por mim. E não pela ideia que tem de mim. Não quero satisfazer curiosidades e ser deixada na merda.

Trabalho na área ou voluntariado?

Como tem vindo a ser meu apanágio, quando não estou a fazer nada, nada acontece e, quando finalmente arranjo o que fazer, chovem propostas de outros lados. Depois de muito tempo a morrer na praia, a ficar em segundo lugar em processos de recrutamento, que duraram meses, e com estágios e trabalhos prometidos, que nunca chegaram a acontecer, decidi candidatar-me a um voluntariado do Corpo Europeu de Solidariedade. Assim que fui selecionada para participar, fui contactada por um antigo professor da universidade, com duas propostas de trabalho na minha área. Tudo o que eu queria, na pior altura possível. 

Em tempos tão incertos como estes, a probabilidade de me cancelarem o voluntariado, por causa do agravamento da pandemia, é bem grande. Da mesma forma, ninguém me garante que, se por acaso for escolhida para algum dos trabalhos, estes não fiquem sem efeito, também, por causa da pandemia. 

Andei a morrer de ansiedade, até ser capaz de contar ao meu pai sobre o voluntariado. Contei-lhe, quando ele me perguntou como andava eu de trabalho. Eu podia ter-me facilitado a vida a mim própria. Dizia que ia fazer um voluntariado e não falava das propostas que tive. Mas não tive coragem de omitir nada e desbronquei-me logo. Para piorar a situação, ele não entendeu que o voluntariado já era certo. E, agora, estou metida numa situação altamente stressante e dilemática.

Adorava fazer o voluntariado, é pouco tempo, um mês e meio, é no estrangeiro e ia fazer-me crescer imenso. Ia viajar sozinha, pela primeira vez, viver num país que não o meu, cozinhar para mim, todos os dias, governar-me sem ajuda, e, quero acreditar, ajudar e levar alegria a quem mais precisa. Ia ser a experiência, pela qual tenho ansiado, estes anos todos.

Candidatei-me na mesma às tais propostas, de que o meu professor me falou, e, para as quais, me recomendou. Agora, é esperar que ninguém goste do meu currículo, nem do meu portefólio, e que não me chamem, para poder fazer o voluntariado de consciência tranquila. Por outro lado, se escolherem e o trabalho for mesmo irrecusável, não sei com que cara vou cancelar a minha participação, que já era certa, num voluntariado que ia adorar fazer, a três semanas de começar.

Posso, também, estar a pôr a carroça à frente dos bois e nenhum dos responsáveis das propostas ter qualquer interesse em contratar-me e toda esta ansiedade ser escusada. Ou, os astros estarem todos impecavelmente alinhados e poder fazer os dois, o voluntariado, até ao fim de dezembro, e começar o trabalho só em janeiro. Mas, claro que situações ideais nunca acontecem.

Medo de ser mulher

  • Quando andava no 9º ano, vinha da escola, a um sábado à tarde, na altura andava com ensaios para um musical em que ia participar, e passei por um homem a masturbar-se dentro de um carro. Passei mesmo ao lado, sem me aperceber de nada e, quando de repente o vi, o gajo estava a olhar para mim. Começou a chamar-me. Eu desatei a correr, só parei em casa. Os meus pais repararam que estava estranha e disseram-me que eu estava esquisita, mas não me perguntaram porquê, nem se tinha acontecido alguma coisa, e eu também não lhes disse.

 

  • Quando tinha uns 13/14 anos, vinha da escola, à hora de almoço, e um velhote veio ter comigo, no meio da rua, e ofereceu-me dinheiro para ir com ele.

 

  • Numa outra altura, por volta da mesma idade, estava a ir para casa e um homem, que tinha um atraso mental, cruzou-se comigo e pôs a mão na minha coxa e apertou-a. Eu continuei a andar, sem parar, e desatei a chorar. Recompus-me antes de chegar a casa e ninguém se apercebeu de nada. Quando contei a um amigo o que tinha acontecido, ele gozou comigo por eu ter chorado.

 

  • No dia em que entreguei a tese, fui beber um copo com uma amiga minha a um café, onde já era costume ir. Estava lá um homem, com uns 40 anos, que não parou de olhar para mim o tempo todo. A dada altura tive de ir à casa de banho e tive de passar obrigatoriamente por ele. Fez questão de me “elogiar”. Quando estava a ir para o meu lugar, voltou a fazê-lo: “meu deus, que…”. Quando me sentei, a minha amiga disse que o gajo me olhou de cima a baixo. Eu estava de calças de ganga, sapatilhas e uma camisola preta larga de meia manga. Nessa mesma noite, estávamos a ir para o carro, para irmos embora, e passou um carro por nós, o gajo abrandou logo que nos viu e abordou-nos. Não tinha boas intenções.

 

Daqui a 2 semanas, vou fazer um curso e, para ir, vou ter de apanhar um autocarro a uns 20 minutos de minha casa. E, para voltar, tenho de o apanhar numa rua que nem sequer conheço e voltar a sair a 20 minutos de minha casa. O curso é em horário pós-laboral, ou seja, isto tudo vai acontecer de noite. Estou, desde que me inscrevi, a bater mal com isto. Tenho muito medo. Detesto andar sozinha à noite, na rua. Morro de medo. E se alguém me segue e me faz alguma coisa?

 

O doce e o amargo de 2019

Doce:

- Tirei, finalmente, a porcaria da carta de condução, em Fevereiro (conduzi duas vezes, desde que a tirei);
- Fiz um exame de Inglês de Cambridge, para ficar com o B2, e acabei por ficar com o C1;
- Visitei a Bélgica (Bruxelas, Bruges e Gent), a França (região de Provença), e Espanha (Barcelona);
- Fiz parte do coro de um espetáculo enorme nacional;

 

Amargo:

Foi o pior ano da minha vida. Nunca me tinha sentido tão sozinha. A amiga em quem mais confiava e que me era mais próxima, afastou-se de mim e substituiu-me por outra pessoa. O meu pai, mais uma vez, provou ser um idiota, insensível. E, num ano tão dificil como este, em que andei triste 90% do tempo, sempre que encontrava alguma coisa que me dava alguma alegria, destruía-me. Foi só para isso que ele serviu este ano, para me deitar abaixo, quando eu já estava no chão. A minha mãe, deu-me a maior facada dos últimos anos, quando tentei desabafar com ela, fazendo um esforço gigante para não me desmanchar a chorar, e ela se riu à gargalhada na minha cara. A morte e o funeral do pai de uma amiga, das pessoas mais 'gente boa' que há, mexeram muito comigo, por razões distintas. O amigo colorido, que tive no início do ano, revelou-se um inimigo gigante, que me sujeitou a uma enorme manipulação ano todo. Eu sabia que esta história ia correr mal, tive esse feeling desde o início, mas nunca pensei que fosse por estes motivos. Tive de o bloquear nas redes sociais e no telemóvel.

 

Felizmente, no meio de toda esta escuridão, pude contar incessantemente com uma pessoa. Se não fosse essa pessoa, estes fantasmas todos tinham levado a melhor de mim. Tanta estupidez que me passou pela cabeça.

 

Nunca quis tanto que um ano acabasse como este. Espero que 2020 me traga paz. Espero que seja desta que arranjo trabalho na área. Espero continuar a viajar muito. Entretanto, vou frequentar aulas de alemão (já me inscrevi) e vou fazer uma formação em Marketing Digital. É importante manter-me ocupada e, de preferência, com coisas que me permitam evoluir. 

 

Some, de vez

Depois de 4 meses de cura, em que consegui ficar a 80%, ele decide voltar e levar-me de volta ao zero.

Durante este 4 meses, tive esperança que ele reconsiderasse e me voltasse a falar, que percebesse que a reacção que teve não foi a melhor e quisesse, pelo menos, entender a sério o que se tinha passado e ficar bem comigo. Bem, isto é, sem ressentimentos. Que desse, pelo menos, para nos cumprimentarmos, caso algum dia nos cruzássemos na rua. Andei a contar os dias, até deixar de o fazer.

E, no sábado, sem contar, recebo uma mensagem dele: "M, até hoje não consegui perceber o que aconteceu entre nós. Queres ir dar uma volta hoje e conversar em condições?". Apanhou-me em casa depois da meia noite. Conversamos, voltei a repetir o que já tinha dito, da última vez que falamos. Que não gostava de estar por estar, que preferia andar e ver e expliquei-lhe que senti uma diferença enorme entre a primeira vez que estivemos juntos e a segunda. Se na primeira foi tudo óptimo, a segunda foi a despachar.

| Foi depois dessa segunda vez que percebi, que era um grande erro continuar com aquela "amizade colorida". Uns dias depois disse-lhe que não queria mais, que não fazia sentido para mim. A conversa descambou e ele entendeu tudo ao contrário. Ainda nos chegamos a encontrar para falar melhor, mas não adiantou de nada. |

Ele pediu desculpa. Disse que ficou muito ofendido com o que eu tinha dito, mas que já tinha percebido que tinha sido um mal entendido. Disse que não me queria magoar, mas que eu só considerava a hipótese de as coisas entre nós correrem bem e darem em alguma coisa. E ele não queria isso. Era exactamente o contrário. Eu considero sempre o pior cenário. Nunca dei certo com ninguém, porquê que haveria de dar com ele? Nem sei estar com ninguém, só sei estar sozinha. Disse-lhe isto tudo e ele no fim perguntou: "Estamos esclarecidos?" e eu respondi "Estás esclarecido?". Ele riu-se, achou o meu tom agressivo, mas engraçado. Fiquei a olhar pela janela do carro e ele continuou: "Olha para mim, porquê que não olhas para mim?". Lá olhei e ele beijou-me.

Não senti nada, mas deixei-me levar. Pouco depois, o ambiente começou aquecer e ele sussurou um "quero estar contigo". Eu afastei-me e disse-lhe: "Não vai dar". Não ia preparada. Rolou pouco mais que aquilo e no fim ainda estivemos abraçados uns largos minutos.

Ontem, três dias depois disto, manda-me sms a perguntar se vou estar cá no fim de semana. Eu a achar que ele queria combinar um dia para estar comigo, afinal era o oposto. "Queria falar contigo pessoalmente. Não faz sentido para mim continuarmos com isto. Não quero adiar o inevitável e magoar-te. Achei que ia sentir alguma coisa mais, mas a verdade é que não sinto o suficiente para continuar.”

Nunca me tinha acontecido, mas quando li a mensagem fiquei atordoada. A cabeça começou a doer-me de maneira estranha e os meus olhos deixaram de focar, senti-me tonta. Isto durou uns longos segundos. Quis responder-lhe mal, mas depois respirei fundo. E se numa primeira resposta lhe disse que não o entendia, na segunda e última disse-lhe que, pela primeira vez, estávamos na mesma página. Que ele não precisava de falar pessoalmente, que eu entendia e estava tudo bem. Foi a única maneira que arranjei de sair por cima e não me permitir voltar ao buraco negro onde andei nos últimos meses.

Para mim está resolvido.

Não sou carnal. Sou emocional.

Andava feliz da vida, a achar que estavamos na mesma página, que queriamos os dois o mesmo, com um primeiro beijo dado ao som de Tom Misch e tudo! Afinal… “M, o caqui (ou lá o raio do termo que ele usou) não é sério”.

Não contava. Nada mesmo. Muito menos depois da situação constrangedora do verão. Já me tinha convencido de que, pelo menos nos próximos 5 anos, não voltariamos a ter qualquer tipo de contacto. Por isso, aquela mensagem em janeiro apanhou-me mesmo de surpresa. Queria tomar café, fiquei meia incrédula e perguntei-lhe: “a sério?”. A questão é: para quê insistir, para quê voltar a tentar, se é só para ter uma cena que não é séria? Está comigo assim, como podia estar com outra pessoa qualquer. Diz que sempre me achou graça, mas, caramba, a graça é assim tanta que para ele compensa o "investimento" nesta cena não séria?

Gostava de ter sabido mais cedo que isto não era sério. Ainda assim, um dia depois desta conversa, deixei-me levar completamente. Há 6 anos que não estava com ninguém. Tinha-lhe falado dos meus medos e traumas e ele quis dar-me a melhor experiência possível. Já estava completamente na dele, antes de isto acontecer.

Esta história vai correr tão mal para mim. Não me dou com amizades coloridas.

Tenho que me focar no facto de ser um gajo que é mesmo meu amigo, não é alguém que conheci há meia dúzia de meses. Conheço-o há mais de dez anos e sempre nos demos bem, perdemos foi o contacto, a dada altura. Que vai ser sempre honesto e que essa honestidade vai ser tão crua que me vai magoar, como magoa sempre. Que, para mim, não é um qualquer. 

A longo prazo, o arrependimento vai ser inevitável. Não sou carnal. Sou emocional.