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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Como ele não houve mais nenhum

A primeira coisa realmente bonita que me disseram na vida foi “tens uma aura mesmo bonita”. Dita pelo Kedi que, mesmo passados tantos anos, me continua a encantar como da primeira vez. Tenho memória curta se calhar, para a tristeza que me fez sentir, quando me deu um chuto no rabo e começou a namorar com a amiga colorida, com quem andava antes de me conhecer. E as vezes que fingiu não me ver, para não ter de me cumprimentar, quando estava com ela. E o constrangimento que sentia, quando era obrigado a cumprimentar-me. Era o desconforto em pessoa. Não sei porquê. Fui um erro assim tão grande a ponto de causar tanto embaraço?

Ele é a pessoa com quem mais sonhei até hoje. Mesmo em alturas em que já nem me lembrava que ele existia, o meu inconsciente fazia questão de me lembrar de que, como ele, não houve mais nenhum na minha vida, ninguém se comparava sequer. Não faz ideia do quanto me marcou.

Tinha 20 anos, quando o conheci, ele tinha 28, e o nosso primeiro date foi passado uns meses, um dia depois de eu fazer 21. Não sabia que era date, ia só beber um copo com um amigo novo, alguém por quem estava absolutamente encantada, mas não sabia ainda que era recíproco. Confessou-me, naquela noite, que o convite para tomar café não era só porque sim, tinha sentido alto clique comigo, coisa que, antes de mim, só lhe tinha acontecido uma vez, com uma ex-namorada com quem esteve muitos anos, o grande amor da vida dele. Declarou-se, mas também me disse, que não podia estar comigo, enquanto não resolvesse a história colorida em que estava metido. Demorou 1 mês a resolver e eu esperei, pacientemente.

Fui tão feliz naquela noite. Senti uma cena que nunca tinha sentido e que nunca mais voltei a sentir. Uma reciprocidade bonita, que andava há meses a ser disfarçada de ambos os lados. Ele disse-me, aliás, que durante meses fez de tudo para me evitar, até ter deixado de o fazer. Senti felicidade extrema. Depois disso fez questão de me apresentar aos amigos todos dele, muito antes de termos dado sequer o nosso primeiro beijo.

A história acabou precocemente, havia um desfasamento muito grande entre os dois. Não era só a idade, era também o facto de eu ser muito inexperiente e só ter estado com uma pessoa e ele já ter muita pedalada e ter estado com muitas. Sempre me culpei, por ele me ter deixado. Por ser tão acanhada, por não ter sido capaz de estar à vontade para ser eu perto dele. Quanto mais próximos, mais eu me fechava. Gostava tanto dele, queria tanto que desse certo, que tinha medo de abrir a boca e dizer porcaria que o fizesse perder o interesse. Ele era daquelas pessoas que toda a gente queria por perto.

Entretanto, a vida aconteceu e nisto passaram-se 8 anos. Tenho agora a idade que ele tinha, quando nos conhecemos. Continuo a comparar todo e qualquer interesse romântico meu a ele. Fantasio constantemente com um café que nunca vai acontecer. Sinto-me ridícula, por não conseguir disfarçar a felicidade de o ver, quando calha de nos cruzarmos. Meu deus, como eu queria que pudessemos ser amigos a sério, mas ele não está para aí virado. Eu não sou a mesma pessoa que era há 8 anos e ele, imagino, muito menos.

A mãe dele morreu há uns meses. Suicidou-se. Quando soube, semanas depois de ter acontecido, não consegui não lhe mandar mensagem. Não dizia nada, não havia nada para dizer, só queria que ele soubesse que lamentava e que sentia muito por ele. Achei que um coração branco o diria, sem ser invasivo. Ele agradeceu. Semanas depois, cruzámo-nos, já não nos víamos há uns 2 anos. Lembrei-me, no dia seguinte, que ele tinha feito anos nessa semana e mandei-lhe mensagem. A data da última, tirando o coração, era de 2016. Falámos por breves momentos, um diálogo curto, mas fixe, e ficámo-nos por aí.

Não faço ideia de como é que a cabeça dele está. Acho que sei, que nunca se recupera de uma tragédia destas. Se fôssemos amigos, checava-o de vez em quando, para ver como estava, mas não somos e eu não tenho esse direito. Não sei se é saudade ou nostalgia que sinto, quando penso nele, sei que entre nós não era para ser, mas que a minha vida seria muito mais rica se ele fizesse parte dela. Mas como isso nunca vai voltar a acontecer, resta-me desejar que ele fique bem e continuar a fantasiar. Acho que nunca fez mal a ninguém. Da parte dele, acho que o embaraço ainda lá está, da minha o ser rídicula é inerente.

Se é justo, porque me sinto mal?

Fui ao estrangeiro em trabalho, cobrir um evento de uma mega empresa internacional, e vivi uma situação de merda.

Numa das noites, fomos filmar um jantar a um restaurante e, a dada altura, fui completamente abalroada por um dos empregados. Agarrou-me no início de umas escadas e depois levou-me ao encontrão até ao fim delas. A cena toda não durou sequer 1 minuto. Foi tão what the fuck que, nos primeiros cinco segundos, eu achei que era um dos meus colegas a agarrar-me por trás e a fazer-me aquela brincadeira estúpida do “isto é um assalto”, só que aquilo não parava. Virei-me para trás e vi um velho colado a mim a empurrar-me. Ainda tentei parar de lado e encostar-me para o deixar passar, mas ele, em vez disso, com todo o espaço que tinha ao lado, não me deixou e continuou atrás de mim, a empurrar-me. E foram empurrões violentos, enquanto berrava comigo na língua dele, que eu pouco ou nada percebia. Só parou no fim das escadas e ainda mandou vir com os meus colegas, que não se aperceberam de nada do que tinha acabado de acontecer.

Senti-me um autêntico objecto a ser levado ao estouro escadas acima. O empregado fez de mim o que quis. Encostei-me num canto a assimilar o que tinha acabado de acontecer, com os nervos as lágrimas vieram-me aos olhos, então, fui à casa de banho chorar 5 minutos, recompus-me e voltei ao trabalho.

Por mim, a situação tinha morrido ali e nunca ninguém teria sabido dela, mas houve duas pessoas da tal mega empresa que viram e um deles foi contar ao patrão. A situação escalou de uma maneira surreal. O patrão veio-me perguntar o que se tinha passado e depois foi pedir justificações ao pessoal do restaurante. Mandou chamar o gerente, o dono, a certa altura já falava até em polícia. Depois contaram-me que a situação só se descontrolou, porque o pessoal do restaurante nem um pedido de desculpas queria fazer e ainda gozaram com a situação de tal maneira que o patrão perdeu as estribeiras.  

Enquanto aquilo acontecia, eu só rezava para que acabasse. Estava-me a sentir mal e não queria arranjar problemas a ninguém. Agora, que já passaram uns dias e já consegui reflectir sobre o que aconteceu, dou graças por ter sido feito alguma coisa e a empresa que nos contratou não ter deixado passar em branco a situação. Uma pessoa leva com tanta merda, às vezes, e nunca acontece nada, que quando finalmente alguém faz alguma coisa e há consequências, sentimo-nos mal, porque não queremos prejudicar ninguém. Mas, foda-se, eu não só não fiz mal a ninguém, como não tinha que ter levado com aquilo, nem ser tratada daquela maneira. Ninguém tem o direito de andar com uma pessoa ao estouro. Por muito stressado que o empregado estivesse, não tinha sequer que me ter tocado com um dedo, quanto mais daquela maneira. Eu também estava a trabalhar, ainda por cima no estrangeiro, nem sequer me conseguia explicar na língua dele, nem me podia passar, por estar a trabalhar e ter uma postura a manter.

Não sei o que se passou na cabeça do empregado, se é sempre assim ou se estava num dia mau. Sei que, se tivesse sido um dos meus irmãos no meu lugar, aquilo tinha dado molho na hora. Não sei se o empregado teria feito o mesmo, se fosse um homem no meu lugar. Sei que se tivesse sido com o meu patrão, ele não teria ficado calado. Sei que situações de merda como estas têm de ter consequências, ou nunca nada vai mudar, o problema é que raramente têm. Sei que, apesar de tudo, me continuo a sentir mal pelo empregado, e com o que lhe possa vir a acontecer, mas dado tudo o que se passou e que fez a situação escalar, o mais provável é não acontecer nada. Mas, se acontecesse, seria justo, mas se é justo, porque me continuo a sentir mal?