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Viajei para Cabo Verde e que bofetada gigante levei. Foram duas semanas na Ilha de Santiago, em duas cidades diferentes, a viver uma realidade distante da minha: a escassez de água e de comida, o povo que, quanto menos tinha, mais nos dava, as paisagens de cortar a respiração, o funaná que tocava de manhã à noite, as batucadeiras enérgicas, as tartarugas enormes a desovar, os milhares de coqueiros e bananeiros que acompanhavam as viagens de hiace, e a sintonia entre vacas, porcos, cabritos, cães, burros e gatos.
Foram duas semanas que podiam ter corrido muito mal, mas que correram muito bem. O primeiro dia em Santa Cruz foi um choque cultural enorme. Apesar de todos os avisos, não ia preparada para o que encontrei. A zona onde fiquei era bastante pobre, havia carradas de construções, em fase inicial, ao abandono, dezenas de cães vadios em estado de magreza extrema e mal tratados e muitos miúdos de rua. Apesar de tudo, Santa Cruz tinha lugares lindíssimos, a praia era de areia preta e as crianças eram umas fofas e ficavam impressionadas com a cor da nossa pele e com o nosso cabelo e queriam sempre tocar-nos e fazer-nos tranças.
No Tarrafal já foi tudo diferente. Já não víamos as crianças e os animais como havíamos visto em Santa Cruz. A cidade estava mais bem tratada e em termos turísticos estava bem mais desenvolvida. O principal ponto de visita era o Campo de Concentração, para onde eram enviados os presos politicos no tempo da ditadura, e a praia, que tinha como fundo a montanha Graciosa, em forma de elefante.
Ainda assim, o que me conquistou realmente em Cabo Verde foi a música. Respira-se música lá! E não falo do funaná, falo dos ritmos quentes, falo dos guitarristas que deixam qualquer um abananado, caramba, eu ficava lá, só para poder assistir a actuações daquelas.
Hei-de voltar e até mais cedo do que imagino.
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