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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Ainda não foi desta

Há dois meses, comecei a falar diariamente com uma pessoa que já conhecia de vista há um ano. Saímos algumas vezes, entretanto, sobretudo em passeios noturnos pelo centro da cidade, a conversar. No penúltimo, beijamo-nos, com muitos amassos. Depois disso, durante dias não se falou do assunto, e quando voltamos a encontrar-nos, foi como se nada tivesse acontecido. Só voltamos a falar sobre isso depois, já com flert à mistura.

Depois disso, ele esteve fora, de férias e em trabalho. Já não nos víamos há umas semanas e, nos poucos dias em que cá esteve, nem lhe passou pela cabeça ver-me, nem combinar nada comigo, mesmo sabendo que ia voltar a estar fora outra longa temporada. Já eu não pensava noutra coisa.

Continuávamos na mesma a falar todos os dias, mas em menor quantidade (era sempre assim, quando ele estava fora em trabalho) e das últimas vezes, eram só quase monólogos dele sempre a queixar-se de algum stresse do trabalho, eu já não sabia o que mais dizer. Nisto, postou uma fotografia dele a andar de mota com a ex. Acho que não era recente e mais de metade das caras estavam cortadas, mas via-se que eram eles.

No dia em que isto aconteceu, despejou em mim um mega queixume laboral e só voltou a responder-me no dia seguinte de manhã. Só lhe respondi à noite e depois disso, da parte dele, só silêncio.

Já estive muito confusa com tudo. Depois, à medida que os dias foram passando e o silêncio aumentando, percebi. Todas as situações que aconteceram, e que me deixaram de pé atrás, era só ele a tentar dizer-me que não estava para aqui virado. Eu era só uma distração porreira, que ele encontrou, para o ajudar a lidar com o fim da relação, que aconteceu em fevereiro. A cabeça dele continua ocupada só com ela. Ele nunca descolou e eu percebo. Ele queria namorar com ela, que é bastante mais velha do que ele, e ela andava com ele, mas não o assumia. Disse-me que, quando acabaram, já queriam os dois que acabasse, mas não é o que se diz sempre, quando acaba? Que queriam os dois?

Nos primeiros dias, senti que me fez um favor. Já andava a saturar de tantos queixumes e da demonstração de tão pouco interesse por mim e pela minha vida. E tinha vindo a perceber, que a maturidade também não era muita. Não estávamos na mesma fase, nem temos o mesmo estilo de vida, e os meus objectivos actuais não podiam diferir mais dos dele. Ainda assim, continuava disposta a conhecê-lo melhor. E, se não desse para haver nada, que ao menos ganhasse ali um amigo porreiro, com quem ainda podia aprender cenas da área. Mas ele achou que o silêncio era a melhor saída.

Quando começamos a falar, e eu estava toda encantada, comentei com uma amiga que já merecia uma história fixe. Ela torceu por isso, mas ainda não foi desta. Só gostava que tivesse sido directo comigo, em vez de agir assim. Ainda por cima, ele sabia da minha última história e de como acabou e fez-me o mesmo.

A parte boa de só ter histórias fracassadas é que se torna mais fácil de lidar. É só mais uma. O ghosting destroe a alma a uma pessoa, mas depois do último que me fizeram, este é quase insignificante. 

Pensei que estava bem

Pensei que estava bem, mas continuo com a cabeça toda lixada. Não gosto de trabalhar sem parar e não ter tempo para descansar, mas continuo a precisar do trabalho para me salvar. Um dia de folga ainda não é tranquilo. A ansiedade de um possível primeiro date atira-me completamente ao chão. Quero as condições perfeitas, sobretudo mentais, e não as tenho. E só me dá para chorar e sentir-me uma inútil e querer poder continuar a ser solteira para sempre. O vazio não é fixe, mas é confortável, a ansiedade da novidade dá cabo de mim, deixo de saber ser eu.

Como ele não houve mais nenhum

A primeira coisa realmente bonita que me disseram na vida foi “tens uma aura mesmo bonita”. Dita pelo Kedi que, mesmo passados tantos anos, me continua a encantar como da primeira vez. Tenho memória curta se calhar, para a tristeza que me fez sentir, quando me deu um chuto no rabo e começou a namorar com a amiga colorida, com quem andava antes de me conhecer. E as vezes que fingiu não me ver, para não ter de me cumprimentar, quando estava com ela. E o constrangimento que sentia, quando era obrigado a cumprimentar-me. Era o desconforto em pessoa. Não sei porquê. Fui um erro assim tão grande a ponto de causar tanto embaraço?

Ele é a pessoa com quem mais sonhei até hoje. Mesmo em alturas em que já nem me lembrava que ele existia, o meu inconsciente fazia questão de me lembrar de que, como ele, não houve mais nenhum na minha vida, ninguém se comparava sequer. Não faz ideia do quanto me marcou.

Tinha 20 anos, quando o conheci, ele tinha 28, e o nosso primeiro date foi passado uns meses, um dia depois de eu fazer 21. Não sabia que era date, ia só beber um copo com um amigo novo, alguém por quem estava absolutamente encantada, mas não sabia ainda que era recíproco. Confessou-me, naquela noite, que o convite para tomar café não era só porque sim, tinha sentido alto clique comigo, coisa que, antes de mim, só lhe tinha acontecido uma vez, com uma ex-namorada com quem esteve muitos anos, o grande amor da vida dele. Declarou-se, mas também me disse, que não podia estar comigo, enquanto não resolvesse a história colorida em que estava metido. Demorou 1 mês a resolver e eu esperei, pacientemente.

Fui tão feliz naquela noite. Senti uma cena que nunca tinha sentido e que nunca mais voltei a sentir. Uma reciprocidade bonita, que andava há meses a ser disfarçada de ambos os lados. Ele disse-me, álias, que durante meses fez de tudo para me evitar, até ter deixado de o fazer. Senti felicidade extrema. Depois disso fez questão de me apresentar aos amigos todos dele, muito antes de termos dado sequer o nosso primeiro beijo.

A história acabou precocemente, havia um desfasamento muito grande entre os dois. Não era só a idade, era também o facto de eu ser muito inexperiente e só ter estado com uma pessoa e ele já ter muita pedalada e ter estado com muitas. Sempre me culpei, por ele me ter deixado. Por ser tão acanhada, por não ter sido capaz de estar à vontade para ser eu perto dele. Quanto mais próximos, mais eu me fechava. Gostava tanto dele, queria tanto que desse certo, que tinha medo de abrir a boca e dizer porcaria que o fizesse perder o interesse. Ele era daquelas pessoas que toda a gente queria por perto.

Entretanto, a vida aconteceu e nisto passaram-se 8 anos. Tenho agora a idade que ele tinha, quando nos conhecemos. Continuo a comparar todo e qualquer interesse romântico meu a ele. Fantasio constantemente com um café que nunca vai acontecer. Sinto-me ridícula, por não conseguir disfarçar a felicidade de o ver, quando calha de nos cruzarmos. Meu deus, como eu queria que pudessemos ser amigos a sério, mas ele não está para aí virado. Eu não sou a mesma pessoa que era há 8 anos e ele, imagino, muito menos.

A mãe dele morreu há uns meses. Suicidou-se. Quando soube, semanas depois de ter acontecido, não consegui não lhe mandar mensagem. Não dizia nada, não havia nada para dizer, só queria que ele soubesse que lamentava e que sentia muito por ele. Achei que um coração branco o diria, sem ser invasivo. Ele agradeceu. Semanas depois, cruzámo-nos, já não nos víamos há uns 2 anos. Lembrei-me, no dia seguinte, que ele tinha feito anos nessa semana e mandei-lhe mensagem. A data da última, tirando o coração, era de 2016. Falámos por breves momentos, um diálogo curto, mas fixe, e ficámo-nos por aí.

Não faço ideia de como é que a cabeça dele está. Acho que sei, que nunca se recupera de uma tragédia destas. Se fôssemos amigos, checava-o de vez em quando, para ver como estava, mas não somos e eu não tenho esse direito. Não sei se é saudade ou nostalgia que sinto, quando penso nele, sei que entre nós não era para ser, mas que a minha vida seria muito mais rica se ele fizesse parte dela. Mas como isso nunca vai voltar a acontecer, resta-me desejar que ele fique bem e continuar a fantasiar. Acho que nunca fez mal a ninguém. Da parte dele, acho que o embaraço ainda lá está, da minha o ser rídicula é inerente.

Se é justo, porque me sinto mal?

Fui ao estrangeiro em trabalho, cobrir um evento de uma mega empresa internacional, e vivi uma situação de merda.

Numa das noites, fomos filmar um jantar a um restaurante e, a dada altura, fui completamente abalroada por um dos empregados. Agarrou-me no início de umas escadas e depois levou-me ao encontrão até ao fim delas. A cena toda não durou sequer 1 minuto. Foi tão what the fuck que, nos primeiros cinco segundos, eu achei que era um dos meus colegas a agarrar-me por trás e a fazer-me aquela brincadeira estúpida do “isto é um assalto”, só que aquilo não parava. Virei-me para trás e vi um velho colado a mim a empurrar-me. Ainda tentei parar de lado e encostar-me para o deixar passar, mas ele, em vez disso, com todo o espaço que tinha ao lado, não me deixou e continuou atrás de mim, a empurrar-me. E foram empurrões violentos, enquanto berrava comigo na língua dele, que eu pouco ou nada percebia. Só parou no fim das escadas e ainda mandou vir com os meus colegas, que não se aperceberam de nada do que tinha acabado de acontecer.

Senti-me um autêntico objecto a ser levado ao estouro escadas acima. O empregado fez de mim o que quis. Encostei-me num canto a assimilar o que tinha acabado de acontecer, com os nervos as lágrimas vieram-me aos olhos, então, fui à casa de banho chorar 5 minutos, recompus-me e voltei ao trabalho.

Por mim, a situação tinha morrido ali e nunca ninguém teria sabido dela, mas houve duas pessoas da tal mega empresa que viram e um deles foi contar ao patrão. A situação escalou de uma maneira surreal. O patrão veio-me perguntar o que se tinha passado e depois foi pedir justificações ao pessoal do restaurante. Mandou chamar o gerente, o dono, a certa altura já falava até em polícia. Depois contaram-me que a situação só se descontrolou, porque o pessoal do restaurante nem um pedido de desculpas queria fazer e ainda gozaram com a situação de tal maneira que o patrão perdeu as estribeiras.  

Enquanto aquilo acontecia, eu só rezava para que acabasse. Estava-me a sentir mal e não queria arranjar problemas a ninguém. Agora, que já passaram uns dias e já consegui reflectir sobre o que aconteceu, dou graças por ter sido feito alguma coisa e a empresa que nos contratou não ter deixado passar em branco a situação. Uma pessoa leva com tanta merda, às vezes, e nunca acontece nada, que quando finalmente alguém faz alguma coisa e há consequências, sentimo-nos mal, porque não queremos prejudicar ninguém. Mas, foda-se, eu não só não fiz mal a ninguém, como não tinha que ter levado com aquilo, nem ser tratada daquela maneira. Ninguém tem o direito de andar com uma pessoa ao estouro. Por muito stressado que o empregado estivesse, não tinha sequer que me ter tocado com um dedo, quanto mais daquela maneira. Eu também estava a trabalhar, ainda por cima no estrangeiro, nem sequer me conseguia explicar na língua dele, nem me podia passar, por estar a trabalhar e ter uma postura a manter.

Não sei o que se passou na cabeça do empregado, se é sempre assim ou se estava num dia mau. Sei que, se tivesse sido um dos meus irmãos no meu lugar, aquilo tinha dado molho na hora. Não sei se o empregado teria feito o mesmo, se fosse um homem no meu lugar. Sei que se tivesse sido com o meu patrão, ele não teria ficado calado. Sei que situações de merda como estas têm de ter consequências, ou nunca nada vai mudar, o problema é que raramente têm. Sei que, apesar de tudo, me continuo a sentir mal pelo empregado, e com o que lhe possa vir a acontecer, mas dado tudo o que se passou e que fez a situação escalar, o mais provável é não acontecer nada. Mas, se acontecesse, seria justo, mas se é justo, porque me continuo a sentir mal?

2022: das crises existenciais à aceitação

Coisas de que me apercebi este ano: nunca mais volto a ser tão jovem como agora. A partir daqui é sempre a piorar. As brancas já começam a ser demasiadas. Com que idade é que, geralmente, as mulheres começam a pintar o cabelo para as disfarçar? Tenho de arranjar maneira de lidar bem com o envelhecimento, acho que me esqueci que o tempo passa para toda a gente e que a juventude não dura para sempre.

O ano de 2022 começou muito mal. Primeiro o ghosting do outro idiota. Depois o meu patrão, que andava insuportável e me tratava mal, pondo-me a rezar para que o estágio acabasse rápido. Entretanto, ele acalmou, o estágio acabou e eu continuei a trabalhar lá, mas agora com contrato. Também levei algumas facadas e afastei-me de alguns amigos.

Mas nem tudo foi mau. Comecei a aprender alemão, objectivo que tinha traçado para este ano, fui ao Alive ver Florence and The Machine, passei o meu aniversário em Lisboa com uma grande amiga. Dei um saltinho à Madeira, em trabalho, uma viagem de 24h, e fiquei com muita vontade de voltar. Fui passear a Zamora e a Salamanca no Verão e compensou muito. Deixei de esperar por companhia para poder fazer coisas que queria fazer, como ir a concertos, por exemplo. É tão bom não estar dependente de ninguém. Ainda não foi desta que dei uso à carta de condução, nem que fui para fora, embora a vontade continue a ser muita. Também pus, finalmente, aparelho nos dentes, há anos que o queria fazer. Daqui a 11 meses tiro e tenho a certeza de que me vai ajudar a ganhar um bocadinho mais de confiança e a sorrir à vontade, sem ter sempre o reflexo de tapar a boca.

2022 foi também um ano de muitas crises existenciais, mas daquelas lixadas de me porem a questionar tudo e me fazerem chegar à conclusão de que não há sentido em nada e que não estou aqui a fazer nada. Tem me acontecido muito a cena de sentir que não vivo, que as coisas que me acontecem, não me estão a acontecer, que sou incapaz de absorver as experiências que vivo, no momento. Que não retenho nada do que experiencio e que não sou capaz de desfrutar de nada. Também ainda não foi desta que fui a um psicólogo. Se calhar, uma boa resolução para o novo ano seria começar a perceber que não posso depender de mim para tudo, aceitar ajuda às vezes é necessário e está tudo bem, não sou menos por isso.

Para quem me leu este ano, muito obrigada. Não imaginam o quão terapêutico é vir aqui escrever. Poderia continuar a fazê-lo num simples documento word, mas não é de todo a mesma coisa. Saber que há alguém que, em dado momento, me lê e que, por vezes, até comenta com palavras encorajadoras e conselhos, aquece-me a alma e ajuda-me a seguir caminho.

Um bom ano para todos.

Dilema estúpido

Vivo sempre num misto de "posso morrer amanhã, por isso vou fazer isto hoje" e "o que vai ser de mim no futuro, se fizer isto ou aquilo agora". Sofro muito por antecipação. Penso sempre nos prós e nos contras de tudo antes de fazer alguma coisa, mas nem por isso vivo melhor. Sinto que me limito muito, às vezes, sempre com medo das consequências, sejam elas boas ou más.

Graças ao meu trabalho, cruzo-me com muita gente. Um dia destes, cruzei-me, pela segunda vez em três meses, com um moço. No mesmo evento, ele estava a prestar o serviço dele e eu o meu. Houve ali qualquer coisa ou então é só alto filme da minha cabeça por, pela primeira vez este ano, ter tido alguém a reparar em mim. Eu sei que obceco como forma de escape à minha vida, como distração, como forma de dar algum entusiasmo aos meus dias, e tenho plena consciência de que era esse o caso, mas...

Descobri-o nas redes sem querer (juro) e cusquei tudo o que havia para cuscar. Acabei a achar-lhe muito graça. Tem sentido de humor, a profissão dele é altamente e ele adora-a, não somos da mesma cidade e a diferença de idades é considerável. Queria adicioná-lo, mas tenho medo que, da próxima vez que nos cruzarmos em trabalho, seja super constrangedor. Duas coisas que me fritam: passar vergonha e ser ridícula. E estou a sê-lo agora, eu sei. Se o adicionar, a minha cabeça acalma, mas só se ele me ignorar é que esqueço isto. Acho que é isso que temo, que ele não me ignore e meta até conversa.

Não faço nada e continuo a matutar, sem saber quando é que isto me vai passar, ou vou em frente, sabendo que isto pode vir a resultar em constrangimento futuro? Que dilema estúpido, pá, no fundo quero adicioná-lo, mas não quero reacção da parte dele, com medo do que possa advir daí. Como se tivesse visto o futuro e soubesse que a brincadeira vai correr mal. Não estou bem, claramente.

O teu nome é sinónimo de inferno

A pessoa que eu mais odeio no mundo voltou para casa. Para minha casa. A melhor coisa que me aconteceu na vida foi, precisamente, quando ele saiu de casa. Finalmente, passei a ter paz e a sentir-me bem num sítio que, para mim, até esse momento, tinha sido sempre sinónimo de inferno. E, agora, caído de pára-quedas, voltou. A namorada, com quem vivia, acabou com ele e, como a casa era dela, ele acabou recambiado para cá.

Estou a falar de uma pessoa que sempre me tratou abaixo de merda e que se orgulhava de dizer que era "um parasita da sociedade". Há muito trauma a viver em mim desses tempos. Da constante inferiorização e humilhação a que me sujeitava, dos insultos ora assumidos ora disfarçados, da manipulação aos meus pais contra mim, do caos que sempre adorou criar. Acha-se deus, acha que manda e que tem de ser tudo à maneira dele e que nós, que já cá estavamos, é que temos de seguir as regras dele. O pior de tudo é que ninguém diz nada e ele, de facto, manda e passou mesmo a ser tudo à maneira dele. A minha casa deixou de ser um sitio onde me sentia bem e passou a ser o inferno de antigamente.

Odeio a presença dele. Os meus níveis de stress e ansiedade aumentam drasticamente de cada vez que estou no mesmo espaço que ele. Odeio a voz dele, o cheiro dele, o tiques dele, odeio-o!

Sempre odiei as horas de jantar, quando ele cá estava, para mim sempre foram tortura. Pois bem, a tortura voltou e alargou-se também ao almoço e a qualquer hora do dia em que esteja em casa. A sala passou a ser um sítio a evitar, porque ele está sempre lá. As conversas que tinha com a minha mãe acabaram, porque ele está sempre lá e, para evitar que ele meta o bedelho e diga coisas para me fazer sentir mal, eu escolho simplesmente não abrir a boca, enquanto ele lá está, que é sempre.

A minha paz já era. A minha raiva, que há muito não se manifestava, está em ponto de ebulição. Os dia que correm bem são completamente arruinados por ele. As unhas são cravadas na cabeça com cada vez mais força, numa procura desesperada de alívio. 

Estou a tentar arranjar uma solução. À primeira vista, a resposta imediata seria sair de casa, porque eu sei que, agora que ele voltou, nunca mais vai sair. E eu nunca mais vou ter paz. Mas, sejamos realistas, não ganho nada por aí além e é algo que, a curto prazo, não se vai concretizar.

Engolir em seco

Não sei se foram os 28 que vieram mexer com tudo ou se, numa infeliz coincidência, se cruzaram com um desregulo qualquer hormonal, mas nestas últimas duas semanas que passaram, desde que os celebrei, tornei-me um caco. Estou toda lixada da cabeça. Não sei se, a par disto, a minha cabeça deu um boom qualquer por causa das facadas que recebi, entretanto, se os sapos todos que engoli fizeram a minha alma rebentar...

As minhas "amigas" espetaram-me alta facada ao marcarem um jantar de mulheres (o primeiro dos últimos 10 anos) para o meu dia de anos, sabendo perfeitamente o dia que era e que eu não ia, quer estivesse cá, quer não estivesse. E, depois, a organizadora de tudo isto, a mesma que sugeriu o dia e perguntou "não te importas, pois não?" ainda teve a lata de me parabenizar com um "parabéns amiga, espero ver-te em breve". Really bitch?! Fuck you! Achei uma falta de respeito, noção e consideração. Eu jamais faria sequer parecido a qualquer uma delas.

Fui ao Nos Alive, ver Florence + The Machine, que era tudo o que eu mais queria, passei a meia noite dos meus anos no concerto a ouvir a "Hunger", que é das minhas músicas preferidas deles e não me conseguia sentir bem, não estava a conseguir desfrutar, sentia-me vazia. Diria que estive em concordância com a canção. Na viagem de regresso para casa, dois dias depois, e que durou mais de 4 horas, tive alto meltdown no autocarro. Quando cheguei a casa, já estava recomposta, mas tive de lidar com o meu pai que estava insuportável, a criticar tudo e mais alguma coisa como sempre, e com o stress da minha mãe, uma bomba relógio, que só quer, à força toda, que esteja sempre tudo bem.

A situação no trabalho, que esteve tranquila durante uns meses, azedou outra vez e estou mesmo a ficar de saco cheio. Paciência zero para a besta do meu patrão. Farta que o meu colega fique com os louros todos de trabalhos em que eu fiz metade ou mais de metade. Farta do estúpido do meu patrão, que não valoriza nada do que faço, que me humilha em frente aos clientes, que arranja sempre maneira de me culpar de coisas que ele decidiu sozinho. Farta de lhe perguntar sobre o meu contrato e de ele não ser capaz de me dar uma resposta clara. Fiquei de o assinar há duas semanas e até agora nada. Só está preocupado com o eventual prémio que pode vir a receber, por me empregar depois do estágio, de resto, não se podia estar mais a cagar. Não vou tolerar muito mais tempo tanta falta de respeito junta, um dia destes vou rebentar. Só me mantenho, porque preciso desesperadamente de ter pelo menos dois anos de experiência, para depois ser mais fácil arranjar trabalho noutro lado qualquer.

O *#?=º." do D. basicamente fez-me ghosting, há mais de 6 meses, e isto tem me batido imenso, nos últimos tempos. Dei-lhe uma nova oportunidade e ele voltou a estragar tudo e, desta vez, foi pior, porque me tirou da paz em que estava e só me lixou. O corpo e a cabeça. Deixou-me na merda, fez-me e faz-me sentir um lixo. Para quê aquilo tudo, no ano passado, se era para me fazer isto e me deixar assim?

Tenho engolido em seco tantas vezes, para não começar a chorar do nada. Parece que tudo o que já estava mal afunilou agora. Lá está, coincidiu com esta entrada nos 28, qual maldição. Virou um peso difícil de suportar. Acho que vou começar a ir a um psicólogo. Não tenho ninguém com quem falar e há anos que quero ir, acho que chega de adiar. Vou esperar uns dias pela consulta com o meu médico de familia, para lhe pedir sugestões. Até lá, é continuar a engolir em seco, um dia de cada vez.

Eurovisão: Ainda bem que ganhou a Ucrânia

Com guerra ou sem guerra, ainda bem que ganhou a Ucrânia, para mim foi merecido. A música é memorável e, na minha opinião, muito melhor do que a do Reino Unido, da Espanha ou da Suécia, que ficaram no pódio no voto do júri. Bendito público. Nem sempre concordo, mas este ano estivemos alinhados. O ano passado fiquei um pouco desgostosa. Até gostei da música italiana, mas para mim tinha ganho a Suiça. Este ano, dava a vitória ou aos Países Baixos, ou à Lituânia, ou à Ucrânia ou a nós, claro. A música portuguesa começou a tocar e deu-me logo vontade de chorar. Ainda bem que a Maro a rearranjou e juntou mais vozes, ganhou logo outro encanto. E nós lucramos um belo 9º lugar, nada mau, para quem há uns anos ou não passava à final ou nunca recebia pontos de país nenhum.

Este ano, felizmente, houve pouca berraria e mais países a cantarem na lingua materna, mas também não houve nenhuma música que me tivesse deixado completamente encantada, a não ser a da Maro. Também gostei muito da música da Islândia que só ficou em 23º lugar. A da Sérvia era estranha para caramba, mas acho que acabou por se entranhar em mim e em toda gente, tanto que acabou em 5º lugar. Tal como o ano passado não percebi o favoritismo da canção de Malta, este ano o mesmo acontece com a de Espanha e a reacção é a mesma: Deus me livre e guarde!

Outros pontos altos da noite foram o arranque da cerimónia com a actuação conjunta da música Give Peace a Chance do John Lennon, a actuação do Mika e a Laura Pausini a cantar a Volare com o público que assistia e eu, que no início achei que ela estava a fazer playback de tão bem que estava a cantar na actuação dela, engoli o que pensei, ela canta mesmo bem.

Um aparte: Adorava ir a uma festa onde só tocassem músicas da Eurovisão.

Senhor, me dê paciência, para aturar o meu patrão

Se, no início, senti que tinha voz e que a minha opinião importava, agora, voltei a ter medo de abrir a boca. Está sempre mal disposto, sempre na iminência de se passar. Se pergunto alguma coisa, que para ele é óbvia, diz-me "já devias saber isso", "essa pergunta é estúpida", "perdeste uma boa oportunidade para ficares calada" e, ainda, "faz mais e pergunta menos". No outro dia, passou-se, porque me deu uma tarefa, no entender dele fácil, mas que, para mim, não era assim tão fácil e, em vez de lhe perguntar alguma coisa ou de lhe pedir ajuda, tentei resolver por mim. Acabei por demorar muito tempo a fazer algo, que podia ter sido feito em pouco tempo. E, não lhe perguntei nada, porque não queria levar com uma das respostas de merda dele, nem levar com uma explicação que me deixa ainda mais confusa, como é seu apanágio, nem levar com uma resposta torta e ficar-me a sentir a pessoa mais burra à face da terra. Mais, já no fim, quando já tinha terminado o trabalho, e depois de ele me dizer que estava bem feito, é que me veio explicar como se fazia. Tive que respirar fundo para não lhe responder "obrigada, mas essa explicação tinha dado jeito no início, e não agora, que já descobri como se faz e que já está feito!".

A cada dia que passa, encontro paz no pensamento de que o fim do estágio se está a aproximar. Neste momento, faltam, precisamente, 4 meses para isto acabar. Sim, estou a aprender imenso. Tirando o patrão horrível que tenho, tem sido uma experiência hiper enriquecedora, tenho tido oportunidade de viver coisas fixes, de conhecer pessoal fixe, de estar em contacto com empresas sobre as quais nada sabia, de abrir horizontes. Mas, sinto que fiquei mais atada do que era, que estou a perder discernimento e que a minha paz está a chegar a níveis negativos.

Uma segunda-feira destas, cheguei ao gabinete e percebi logo pelo "bom dia" dele, que havia alguma coisa de errado. Foi mais seco e antipático do que o costume, mas ao meu colega, que chegou com 20 minutos de atraso, deu-lhe o olá mais afável do mundo e ainda mandou uma graçola para se rirem os dois. Evitei ao máximo qualquer contacto com ele. Passado umas horas, olhou para mim com um olhar fulminante e disse-me que fiz uma asneira. Perguntei-lhe onde, porque não me lembrava mesmo de a ter feito, e ele respondeu-me inflamado "eu é que não fui de certeza!". Mas eu disse que foi? Eu só perguntei onde tinha sido, para poder ver no meu computador a dita asneira e garantir que não a voltava a repetir.

Uma altura, passou-se comigo, por causa de uma porcaria de uma lente e ainda me disse "e não olhes para mim com essa cara, como se eu não tivesse razão nenhuma no que estou a dizer!". Eu estava em silêncio, a ouvi-lo e a tentar não mostrar qualquer tipo de reacção, a rezar para que ele se calasse. Engoli em seco, para não começar a chorar de nervos, e respondi-lhe "é a minha cara, o que queres que faça?!" e a namorada dele, que também lá estava, interviu e disse "alguém acordou mal disposto da sesta que fez de tarde", só para acalmar os ânimos. Passado dez minutos, já estava calminho e a mandar piadas. E eu ainda sorri, só para não contribuir mais para o ambiente pesado, nem levar com piadas machistas de estar sensível e irritada por estar com o período, como já o ouvi dizer de uma outra colega.

Ter de levar com um patrão assim é altamente frustrante e desmotivante. É machista, tem um feitio horrível, acha-se o dono da razão, é hiper confuso e incoerente. Nunca chega a horas a lado nenhum, nem quando temos clientes à espera, e as secas que já me deu! Acha que pode falar como quer, quando me tento justificar, começa a falar por cima em tom jocoso. Explica uma coisa a 10% e espera que uma pessoa entenda a 100%. Percebe sempre tudo ao contrário. Tenho a certeza absoluta que, qualquer pessoa que já tenha trabalhado ali com ele, dirá o mesmo. Depois admira-se que o pessoal se despeça e de ficar sem equipa. Quando comecei a trabalhar ali, as três pessoas que trabalhavam com ele tinham acabado de se despedir e ele tinha chamado de urgência uma antiga colega, com quem tinha trabalhado anos antes (colega essa que, entretanto, também se despediu, porque lhe ofereceram uma oportunidade melhor). Ninguém aguenta muito tempo a trabalhar com uma pessoa assim. Eu estou há 8 meses e só me quero ir embora.