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Lazy Lover Undercover

Lazy Lover Undercover

Viajar sozinha pela primeira vez

Sinto que viajar sozinha mudou a minha vida ou pelo menos a maneira como a quero viver. Pôs tudo em perspectiva. Já andava a plantar esta ideia na minha cabeça, há algum tempo. Dizia-o para mim e em voz alta, às vezes, a alguém. Andei meses a ver voos e a procurar o melhor hostel para ficar, sem saber ainda se o ia realmente fazer.

Escolhi um destino que achei que seria o ideal para uma primeira viagem a solo. Cidade do país vizinho, 1h de viagem. Qualquer coisa, era enfiar-me no avião e em menos de nada estava de volta. Tinha planeado ir 4 dias, mas na semana anterior mudei de ideias (um pouco por causa disto), estendi para 10 e acrescentei uma segunda cidade a visitar. Fora a distância, não sabia absolutamente nada sobre os destinos que escolhi, mas acho que acertei em cheio.

Foi a primeira vez que viajei sozinha e foi uma viagem cheia de primeiras vezes. Fui cheia de vontade e algum medo. Demorei a soltar-me. Sou boa a inglês, mas engasguei-me toda só para fazer o check-in, no primeiro dia. O ponto alto foram as pessoas que conheci no hostel e as conversas que tive com elas. Os sitios bonitos onde estive também e até o calor insuportável que estava, e que me fazia escorrer litros e litros de suor pelo corpo, eu adorei. E a sensação de leveza que tive a meio da viagem, depois de dois dias inteiros sozinha, enquanto sentia a primeira brisa amena a soprar-me na cara, foi maravilhosa.

O hostel da primeira cidade era altamente e foi lá que vivi dos momentos mais fixes da viagem. Na minha segunda noite, a minha energia estava em baixo e, por isso, a minha intenção era ir jantar qualquer coisa rápida ao restaurante do hostel e ir dormir. Mas, quando cheguei ao restaurante, encontrei uma rapariga marroquina, que tinha conhecido de manhã, e que me fez uma festa, quando me viu. Acabei por jantar com ela e foi a melhor coisa que podia ter acontecido. A meio do jantar, juntou-se a nós um rapaz alemão e, mais tarde, uma rapariga croata. Todos nós estávamos a viajar sozinhos e encontrámo-nos ali, por acaso. No fim do jantar, ainda fui beber um copo com as duas raparigas. Nessa noite, estava com o pior aspecto possível e a precisar de um banho urgente e, mesmo assim, o empregado do bar onde fomos, um colombiano de 24 anos engraçadito, veio-me pedir o instagram, quando me estava a ir embora. Essa noite foi absolutamente inesperada e foi das melhores que tive na viagem. No dia seguinte de manhã, as duas raparigas foram embora, uma para Itália e outra para Bangkok, e eu, sem contar, acabei por passar o dia todo com o alemão à descoberta da cidade.

Na segunda cidade onde fui, fiquei num apartamento altamente só para mim, com piscina, e a meia hora a pé do centro da cidade. Fiz tudo a pé, andei quilómetros e custou-me zero. Achei que, depois da experiência na primeira cidade, me ia sentir muito sozinha ali, mas não. Passei muitas horas em silêncio, que só era interrompido nos restaurantes, para fazer o pedido, e quando alguém me pedia para tirar fotografias, e foi tranquilo. A cidade era muito bonita e entretive-me bem a fotografar e a filmar (sou videógrafa de profissão, já o fazia inconscientemente). Acabei por ficar um dia extra, para viver uma aventura. Arrependi-me várias vezes, ao longo do dia, de ter lá ficado. Já me tinha despedido da cidade no dia anterior e estava demasiado cansada para visitar o que quer que fosse. Ainda assim, fiz o esforço, mas lá está, já foi em esforço. Contudo, a noite fez tudo valer a pena. Vivi o que tinha para viver e, na manhã seguinte, voltei para a primeira cidade.

Uns dias depois, na minha penúltima noite em Espanha, voltei a jantar no tal restaurante do hostel, mas desta vez de forma planeada. Inscrevi-me num jantar entre hóspedes, que eles promoviam, e conheci dois italianos e dois americanos. A conversa foi muito boa, à volta dos sonhos, da vida, do envelhecer. Era um americano, de descendência coreana (pais da Coreia do Sul e avós da Coreia do Norte), quem lançava os temas mais interessantes. Esse jantar foi outro dos pontos altos da viagem. 

O pior de tudo foi voltar. Eu nunca tinha ouvido falar em travel blues na vida, mas bateu-me muito forte. Fui invadida por um sentimento de vazio colossal e uma ansiedade horrível. Só tinha vontade de chorar. Ainda agora não estou bem. Voltar à rotina parecia-me uma sentença de morte. Como é que depois de tudo o que vivi, das coisas incríveis que experienciei, das pessoas interessantíssimas que conheci, volto ao mesmo de sempre? Não estava a aguentar e as primeiras semanas, depois de voltar, foram vividas em piloto automático. 

Esta viagem veio-me relembrar de como adoro ir sozinha para o estrangeiro*. Adoro que ninguém me conheça, que ninguém saiba nada sobre mim. Adoro poder ser o que eu quiser, sem ninguém ter ideias viciadas do que sou, sem julgamentos. Adoro conhecer outras pessoas e não estar dependente de ninguém. Adoro poder vestir o que eu quiser, sem me sentir complexada, como acontece aqui. Em Espanha, senti-me super confiante, bonita, sexy, vista! Adorava, quando reparava que alguém me olhava duas vezes. Aqui sinto-me sempre invisível. Tinha sede de atenção e não sabia.

Estou a tentar evitar cair nos mesmos padrões de sempre. Tenho uma sensação estranha no peito, como se isto agora não me chegasse, porque vi e vivi para além disto. Eu sei que o que até agora me ocupou, não me enche as medidas, nunca encheu. O tempo tem passado a correr e, de repente, a rotina de que fugi, já se voltou a instalar. Há coisas que vivi na viagem, que agora parece que não passaram de um sonho. Nunca tinha tido esta sensação na vida. Sinto-me inquieta, com vontade de mudar de vida. Sinto desconforto e espero não deixar de o sentir. Se deixar, é porque a rotina ganhou e eu me esqueci do bom que é viver. Até aqui só sobrevivi.

Esta viagem ensinou-me também que, embora adore estar sozinha, uma boa companhia bate isso aos pontos. Na mesma medida, em que as pessoas nos podem destruir, são também elas que dão sentido à vida. Temos é de nos rodear das certas. Como me disse um professor meu, há muitos anos, "nós não somos ilhas". Acho que só agora é que percebi realmente o que isso queria dizer.

Para além de ser super interessante conhecer pessoas de outros países, faz-nos bem e é absolutamente necessário, para nos obrigar a sair da bolha em que vivemos. Vejo as stories do americano que conheci e o que para ele é rotina, para mim é novidade, o que para mim é banal, para ele é incrível. É dos melhores lembretes que posso retirar desta viagem: há mais mundo para além deste e só depende de mim descobri-lo.

A única certeza que tenho, neste momento, é de que tenho de voltar a viajar sozinha, tenho de tentar ter mais mão no trabalho e não deixar que ele me absorva como de costume, fazendo-me viver só para ele e não ter vida para além dele. É mesmo verdade que a vida acontece, quando saímos da nossa zona de conforto. Viajar sozinha deu-me a sensação de ter superpoderes e agora quero mais para mim, muito mais.

*(Em 2020, já tinha ido sozinha para a Polónia e ficado lá a viver quase 2 meses, mas os meus dias eram passados na fundação onde estava a fazer voluntariado e fui a saber que ia conhecer outros voluntários, com quem inclusive partilhei casa e quarto. Por isso, é que não considero essa a minha primeira viagem sozinha, porque foi tudo num ambiente seguro e controlado e tinha satisfações a dar, se não cumprisse o contrato.)

"Amor" de verão

Em julho, conheci um músico do país vizinho. Ele veio tocar à minha cidade com uma cantora americana e mais três músicos. O concerto foi altamente e, no fim, comprei um cd dele, pedi-lhe para assinar, já que ele estava ali ao lado, e falamos uns 20 segundos. No dia seguinte, partilhei uma instastory do concerto e identifiquei-o a ele e à cantora que ele acompanhou. Ela agradeceu apenas, ele repartilhou, começou-me a seguir e mandou-me mensagem. Eu segui de volta e respondi a agradecer a partilha. E isto podia ter ficado por aqui, mas não ficou.

Ele, às tantas, diz-me "a ver se volto ou se vens tu a ***** (e disse o nome da cidade dele). Coincidência do caraças, horas antes tinha comprado voos e alojamento para a cidade dele, para a minha primeira viagem a solo de sempre! Claro que lhe disse logo que, por acaso, ia mesmo lá e perguntei-lhe se ia ter algum concerto nos dias em que eu ia. E aqui começou toda uma conversa à volta do "não sei se vou estar, deixa ver, acho que sim, afinal acho que não, deixa ver", que evoluiu para um "se estiver aqui, quando vieres, e quiseres, posso-te mostrar algumas coisas e podemos beber um copo, se houver tempo." Ainda lhe pedi dicas da cidade e ele deu-me. Nisto passaram-se umas semanas e, num sábado aleatório, ele mandou-me uma msg só com um emoji aborrecido e eu não percebi logo, mas ele disse-me, então, que não ia estar, quando eu lá fosse, mas que agora tinha ficado com vontade. Aquela conversa do vai/não vai acabou por fazer crescer uma vontade de parte a parte de realmente nos encontrarmos. Ele, então, sugeriu que eu o convidasse a visitar a minha cidade. Eu disse que sim, mas que a minha cidade era pequena, numa manhã ficava vista. Ele sugeriu, então, a minha e mais outra. Eu disse que era um bom plano, mas que estava a considerar ficar mais dois dias na cidade dele. Ele disse que não ia poder na mesma e perguntou-me se eu não podia na semana seguinte.

Fiquei uns dias a pensar naquilo. Ainda por cima, este ano, a empresa onde trabalho fechou três semanas em agosto, uma a mais do que o habitual. A ideia de ficar tanto tempo sem fazer nada, depois de voltar da viagem, estava-me a matar e acabei por lhe dizer que ia ver, talvez desse. Lá me decidi e a minha viagem, que inicialmente era para ter 4 dias, acabou por ter 10, e incluí uma segunda cidade para visitar. Disse-lhe que ia dar e que nos encontrávamos, então, no dia x. A única expectativa que tinha criado era dele me mostrar alguma coisa na cidade e de bebermos um copo.

Em Agosto, como planeado, lá viajei para a cidade dele uns dias, depois fui a outra mais no sul por mais alguns dias, antes de voltar à cidade dele, onde iria terminar a viagem. Quando estava na cidade do Sul, ele foi lá tocar e eu acabei por ficar mais uma noite para ir ao concerto dele, sempre na esperança de que desse para nos encontrarmos no fim. A certeza só veio, quando eu já estava a caminho do concerto. Tinhamos passado o dia a trocar mensagens, a ver sitios para ele ficar nessa noite (caso contrário teria de ir embora com o amigo, mal o concerto acabasse), e havia sempre algum problema com os alojamentos, mas à última da hora lá reservou um sitio. Assim que ele entrou em palco, eu não conseguia parar de sorrir. Estava-me a sentir a gaja mais sortuda do mundo, porque no fim ia beber um copo com ele. E assim foi. Encontramo-nos na esquina da catedral, bebemos dois copos e meio, em dois bares diferentes, conversamos muito. A dada altura, sem eu contar, aproximou-se de mim e perguntou-me ao ouvido "posso-te beijar?". Nem sei em que lingua foi, se em portunhol "puedo te beijar", se em português do brasil "posso beijar você?". Fiquei tão embasbacada que lhe perguntei "A sério? Agora? Porquê?", ele só dizia a sorrir "si, si, porque me gostaria".

Beijamo-nos e acabamos a passar a noite juntos. Nunca me tinha visto noutra, mas o "date" foi incrível e eu senti-me mesmo bem. Ele, em momento algum, me fez acreditar que aquilo era mais do que era. Foi muito honesto e preocupado o tempo todo, se eu estava bem, se estava confortável. Fez-me sentir bonita, desejada, sexy. Nunca me tinha sentido assim. Achei que estava louca por me meter naquilo, mas estava de férias sozinha pela primeira vez, tinha conhecido aquela pessoa interessante com quem tinha química, não estava com ninguém há quase 3 anos, e arrisquei viver aquela aventura.

Na manhã seguinte, voltei para a cidade dele, mas ele ainda ficou no sul até à noite. Combinámos mais tarde, estarmos juntos uma última vez, quando ele voltasse. Estivemos e foi bom. Já não houve o encantamento todo de antes, foi muito mais terra a terra, o que foi óptimo, para me ajudar a lidar com a situação. Precisava de conhecer a outra realidade dele, o dia-a-dia, e não só as histórias incríveis de vida que ele tinha e que me contara naquele jogo de sedução, duas noites antes. 

A despedida acabou por ser meia atabalhoada. Ele estava à espera de um telefonema do irmão, para o ir buscar ao aeroporto, que chegou num timing complicado. Vestimo-nos à pressa, chamei um uber, ele disse que se eu quisesse podia esperar em casa dele, mas que ele tinha mesmo de ir. Não foi preciso. O uber chegou, ele acompanhou-me até lá, deu-me um beijo, um abraço e desejou tudo de bom para a minha vida.


Quando voltei para Portugal, não conseguia pensar noutra coisa. Para além da experiência da viagem a solo ter sido incrível, tinha tido aquele fugaz maravilhoso com aquele homem lindo e talentoso, bastante mais velho do que eu, quase 20 anos. Ele tinha dos sorrisos mais bonitos que vi na vida. Não queria nem pensar se para ele isto era uma prática comum, imagino que sim. Mais do que a ele, fiquei agarrada ao que ele me fez sentir. 

Quando me meti nisto, não sabia como iria lidar com tudo no futuro. Achava que mal, porque sou muito mais emocional do que carnal, mas arrisquei na mesma, achei que valia o risco e não me arrependo. De volta à realidade, o travel blues atingiu-me forte e a tristeza bateu-me muito, só de pensar que nunca mais o ia ver na vida, nem sentir o que ele me fez sentir. Foi como se estivesse a fazer um luto. Agora, parece que não passou tudo de um sonho. Concluo que a história perfeita é aquela que começa já a saber que vai acabar. Isto foi perfeito, porque foi maravilhoso e acabou, não há por onde estragar. Mas, porra, mata-me que tenha acabado para sempre.

A minha mãe reformou-se

A minha mãe reformou-se. Trabalhou durante 44 anos, 40 dos quais no mesmo sítio. Está-me a bater mais a reforma dela do que os meus 30, feitos entretanto. As colegas só foram informadas dois dias antes, ela não queria que se soubesse, porque lhe custam muito as despedidas. Mesmo assim, prepararam-lhe uma surpresa. Ela não aguentou e fartou-se de chorar. Vi um vídeo que alguém filmou da despedida que lhe fizeram e, meu deus, o que ela chorava, o que ela soluçava! Nunca a tinha visto assim! Desmanchei-me a chorar também. Isto assusta-me tanto. Dá-me tanto medo. Medo por ser uma espécie de lembrete bombástico de que a minha mãe está velhota, e oficialmente na terceira idade, e não saber como vai lidar com a reforma. Medo que lide mal e definhe, medo que seja atingida por uma súbita doença que não a deixe usufruir do tempo que lhe resta e não saber quanto tempo será esse, mas que será cada vez mais curto. Medo de a perder. Acho que no fundo é isso. Não sei viver sem ela.

Devo transpirar solidão

O Facebook anda-me a irritar. Deve-me sentir solitária e está constantemente a mandar-me sugestões de amizades de homens da minha faixa etária. Por dia, recebo uns 5. Sempre de homens, sempre!

Isto a juntar ao facto de ter chegado agora à conclusão de que acordei tarde e perdi a minha oportunidade com um homem super querido francês, por quem deixaria tudo, se ainda quisesse ter alguma coisa comigo. Mas, lá está, acordei tarde, ele agora tem namorada, linda de morrer, e deu-me uma tampa, claro, mas muito educada.

Conheci-o no ano passado em França, quando fui lá em trabalho. Ele mostrou claramente que estava interessado, arranjava sempre pretexto para estar perto de mim e falar comigo e arranjou a desculpa mais estapafúrdia para ficar com o meu contacto. Acho que, por causa disso, este ano, quando voltei a estar com ele também em trabalho, mas desta vez na Suiça, andei a ver sinais onde não existiam e, claramente, fiz o que detesto que façam comigo, confundi simpatia com interesse. Ou então, não. Ele deu realmente esses sinais, num mix de sentimentos. Consigo pensar numa ou noutra situação.

Já de volta a Portugal, mandei-lhe msg a dizer que tinha sido bom revê-lo e que se viesse cá para dizer qualquer coisa. Ele viu, começou a responder, mas apagou e a resposta só chegou meia hora depois. Remeteu-a ao trabalho, agradeceu o "hard work" e falou do sucesso do evento. Depois disse que não sabia quando viria cá e despediu-se com um "take care", a expressão que eu tinha evitado usar com ele, por achar tão fria.

Percebo e respeito que o tenha feito e fico ainda com mais certeza de que é uma pessoa como deve ser. Ainda assim, quando lhe mandei msg, estava plenamente ciente de que namorava, mas mandei na mesma numa tentativa de ficarmos amigos e tendo consciência de que nunca mais o iria ver na vida. É tão raro conhecer pessoas fixes, hoje em dia, e mantê-las na nossa vida e o moço é super boa onda e até o patrão dele me falou super bem dele.

Não era a primeira vez, para mim pelo menos, que um interesse virava amizade apenas e ficava tudo bem, mas aqui não foi possível. Achei que seria, dada a distância a que vivemos um do outro e à falta de oportunidade de nos vermos. Achei que seria fácil sermos amigos, sobretudo nestas condições. Depois senti muitos remorsos e o arrependimento consumiu-me. Não sei se por sentir realmente que só queria um amigo, dada a solidão que sinto a maior parte do tempo, se por achar que estava a tentar convencer-me de que era só isso que eu queria, um amigo. Mas já me estava a imaginar a mostrar-lhe a ele e à namorada o Porto e a ficarmos todos amigalhaços.

Acho que, no ano passado, fiquei irritada com a aproximação repentina e por não saber quanto daquilo era genuino. Este ano percebi que era tudo. E como tudo na minha vida é feita de maus timings, este é só mais um, mas magoou. 

Ainda não foi desta

Há dois meses, comecei a falar diariamente com uma pessoa que já conhecia de vista há um ano. Saímos algumas vezes, entretanto, sobretudo em passeios noturnos pelo centro da cidade, a conversar. No penúltimo, beijamo-nos, com muitos amassos. Depois disso, durante dias não se falou do assunto e, quando voltamos a encontrar-nos, foi como se nada tivesse acontecido. Só voltamos a falar sobre isso depois, já com flirt à mistura.

Depois disso, ele esteve fora, de férias e em trabalho. Já não nos víamos há umas semanas e, nos poucos dias em que cá esteve, nem lhe passou pela cabeça ver-me, nem combinar nada comigo, mesmo sabendo que ia voltar a estar fora outra longa temporada. Já eu não pensava noutra coisa.

Continuávamos na mesma a falar todos os dias, mas em menor quantidade (era sempre assim, quando ele estava fora em trabalho) e das últimas vezes, eram só quase monólogos dele sempre a queixar-se de algum stresse do trabalho, eu já não sabia o que mais dizer. Nisto, postou uma fotografia dele a andar de mota com a ex. Acho que não era recente e mais de metade das caras estavam cortadas, mas via-se que eram eles.

No dia em que isto aconteceu, despejou em mim um mega queixume laboral e só voltou a responder-me no dia seguinte de manhã. Só lhe respondi à noite e depois disso, da parte dele, só silêncio.

Já estive muito confusa com tudo. Depois, à medida que os dias foram passando e o silêncio aumentando, percebi. Todas as situações que aconteceram, e que me deixaram de pé atrás, era só ele a tentar dizer-me que não estava para aqui virado. Eu era só uma distração porreira, que ele encontrou, para o ajudar a lidar com o fim da relação, que aconteceu em fevereiro. A cabeça dele continua ocupada só com ela. Ele nunca descolou e eu percebo. Ele queria namorar com ela, que é bastante mais velha do que ele, e ela andava com ele, mas não o assumia. Disse-me que, quando acabaram, já queriam os dois que acabasse, mas não é o que se diz sempre, quando acaba? Que queriam os dois?

Nos primeiros dias, senti que me fez um favor. Já andava a saturar de tantos queixumes e da demonstração de tão pouco interesse por mim e pela minha vida. E tinha vindo a perceber, que a maturidade também não era muita. Não estávamos na mesma fase, nem temos o mesmo estilo de vida, e os meus objectivos actuais não podiam diferir mais dos dele. Ainda assim, continuava disposta a conhecê-lo melhor. E, se não desse para haver nada, que ao menos ganhasse ali um amigo porreiro, com quem ainda podia aprender cenas da área. Mas ele achou que o silêncio era a melhor saída.

Quando começamos a falar, e eu estava toda encantada, comentei com uma amiga que já merecia uma história fixe. Ela torceu por isso, mas ainda não foi desta. Só gostava que tivesse sido directo comigo, em vez de agir assim. Ainda por cima, ele sabia da minha última história e de como acabou e fez-me o mesmo.

A parte boa de só ter histórias fracassadas é que se torna mais fácil de lidar. É só mais uma. O ghosting destrói a alma a uma pessoa, mas depois do último que me fizeram, este é quase insignificante. 

Pensei que estava bem

Pensei que estava bem, mas continuo com a cabeça toda lixada. Não gosto de trabalhar sem parar e não ter tempo para descansar, mas continuo a precisar do trabalho para me salvar. Um dia de folga ainda não é tranquilo. A ansiedade de um possível primeiro date atira-me completamente ao chão. Quero as condições perfeitas, sobretudo mentais, e não as tenho. E só me dá para chorar e sentir-me uma inútil e querer poder continuar a ser solteira para sempre. O vazio não é fixe, mas é confortável, a ansiedade da novidade dá cabo de mim, deixo de saber ser eu.

Como ele não houve mais nenhum

A primeira coisa realmente bonita que me disseram na vida foi “tens uma aura mesmo bonita”. Dita pelo Kedi que, mesmo passados tantos anos, me continua a encantar como da primeira vez. Tenho memória curta se calhar, para a tristeza que me fez sentir, quando me deu um chuto no rabo e começou a namorar com a amiga colorida, com quem andava antes de me conhecer. E as vezes que fingiu não me ver, para não ter de me cumprimentar, quando estava com ela. E o constrangimento que sentia, quando era obrigado a cumprimentar-me. Era o desconforto em pessoa. Não sei porquê. Fui um erro assim tão grande a ponto de causar tanto embaraço?

Ele é a pessoa com quem mais sonhei até hoje. Mesmo em alturas em que já nem me lembrava que ele existia, o meu inconsciente fazia questão de me lembrar de que, como ele, não houve mais nenhum na minha vida, ninguém se comparava sequer. Não faz ideia do quanto me marcou.

Tinha 20 anos, quando o conheci, ele tinha 28, e o nosso primeiro date foi passado uns meses, um dia depois de eu fazer 21. Não sabia que era date, ia só beber um copo com um amigo novo, alguém por quem estava absolutamente encantada, mas não sabia ainda que era recíproco. Confessou-me, naquela noite, que o convite para tomar café não era só porque sim, tinha sentido alto clique comigo, coisa que, antes de mim, só lhe tinha acontecido uma vez, com uma ex-namorada com quem esteve muitos anos, o grande amor da vida dele. Declarou-se, mas também me disse, que não podia estar comigo, enquanto não resolvesse a história colorida em que estava metido. Demorou 1 mês a resolver e eu esperei, pacientemente.

Fui tão feliz naquela noite. Senti uma cena que nunca tinha sentido e que nunca mais voltei a sentir. Uma reciprocidade bonita, que andava há meses a ser disfarçada de ambos os lados. Ele disse-me, aliás, que durante meses fez de tudo para me evitar, até ter deixado de o fazer. Senti felicidade extrema. Depois disso fez questão de me apresentar aos amigos todos dele, muito antes de termos dado sequer o nosso primeiro beijo.

A história acabou precocemente, havia um desfasamento muito grande entre os dois. Não era só a idade, era também o facto de eu ser muito inexperiente e só ter estado com uma pessoa e ele já ter muita pedalada e ter estado com muitas. Sempre me culpei, por ele me ter deixado. Por ser tão acanhada, por não ter sido capaz de estar à vontade para ser eu perto dele. Quanto mais próximos, mais eu me fechava. Gostava tanto dele, queria tanto que desse certo, que tinha medo de abrir a boca e dizer porcaria que o fizesse perder o interesse. Ele era daquelas pessoas que toda a gente queria por perto.

Entretanto, a vida aconteceu e nisto passaram-se 8 anos. Tenho agora a idade que ele tinha, quando nos conhecemos. Continuo a comparar todo e qualquer interesse romântico meu a ele. Fantasio constantemente com um café que nunca vai acontecer. Sinto-me ridícula, por não conseguir disfarçar a felicidade de o ver, quando calha de nos cruzarmos. Meu deus, como eu queria que pudessemos ser amigos a sério, mas ele não está para aí virado. Eu não sou a mesma pessoa que era há 8 anos e ele, imagino, muito menos.

A mãe dele morreu há uns meses. Suicidou-se. Quando soube, semanas depois de ter acontecido, não consegui não lhe mandar mensagem. Não dizia nada, não havia nada para dizer, só queria que ele soubesse que lamentava e que sentia muito por ele. Achei que um coração branco o diria, sem ser invasivo. Ele agradeceu. Semanas depois, cruzámo-nos, já não nos víamos há uns 2 anos. Lembrei-me, no dia seguinte, que ele tinha feito anos nessa semana e mandei-lhe mensagem. A data da última, tirando o coração, era de 2016. Falámos por breves momentos, um diálogo curto, mas fixe, e ficámo-nos por aí.

Não faço ideia de como é que a cabeça dele está. Acho que sei, que nunca se recupera de uma tragédia destas. Se fôssemos amigos, checava-o de vez em quando, para ver como estava, mas não somos e eu não tenho esse direito. Não sei se é saudade ou nostalgia que sinto, quando penso nele, sei que entre nós não era para ser, mas que a minha vida seria muito mais rica se ele fizesse parte dela. Mas como isso nunca vai voltar a acontecer, resta-me desejar que ele fique bem e continuar a fantasiar. Acho que nunca fez mal a ninguém. Da parte dele, acho que o embaraço ainda lá está, da minha o ser rídicula é inerente.

Se é justo, porque me sinto mal?

Fui ao estrangeiro em trabalho, cobrir um evento de uma mega empresa internacional, e vivi uma situação de merda.

Numa das noites, fomos filmar um jantar a um restaurante e, a dada altura, fui completamente abalroada por um dos empregados. Agarrou-me no início de umas escadas e depois levou-me ao encontrão até ao fim delas. A cena toda não durou sequer 1 minuto. Foi tão what the fuck que, nos primeiros cinco segundos, eu achei que era um dos meus colegas a agarrar-me por trás e a fazer-me aquela brincadeira estúpida do “isto é um assalto”, só que aquilo não parava. Virei-me para trás e vi um velho colado a mim a empurrar-me. Ainda tentei parar de lado e encostar-me para o deixar passar, mas ele, em vez disso, com todo o espaço que tinha ao lado, não me deixou e continuou atrás de mim, a empurrar-me. E foram empurrões violentos, enquanto berrava comigo na língua dele, que eu pouco ou nada percebia. Só parou no fim das escadas e ainda mandou vir com os meus colegas, que não se aperceberam de nada do que tinha acabado de acontecer.

Senti-me um autêntico objecto a ser levado ao estouro escadas acima. O empregado fez de mim o que quis. Encostei-me num canto a assimilar o que tinha acabado de acontecer, com os nervos as lágrimas vieram-me aos olhos, então, fui à casa de banho chorar 5 minutos, recompus-me e voltei ao trabalho.

Por mim, a situação tinha morrido ali e nunca ninguém teria sabido dela, mas houve duas pessoas da tal mega empresa que viram e um deles foi contar ao patrão. A situação escalou de uma maneira surreal. O patrão veio-me perguntar o que se tinha passado e depois foi pedir justificações ao pessoal do restaurante. Mandou chamar o gerente, o dono, a certa altura já falava até em polícia. Depois contaram-me que a situação só se descontrolou, porque o pessoal do restaurante nem um pedido de desculpas queria fazer e ainda gozaram com a situação de tal maneira que o patrão perdeu as estribeiras.  

Enquanto aquilo acontecia, eu só rezava para que acabasse. Estava-me a sentir mal e não queria arranjar problemas a ninguém. Agora, que já passaram uns dias e já consegui reflectir sobre o que aconteceu, dou graças por ter sido feito alguma coisa e a empresa que nos contratou não ter deixado passar em branco a situação. Uma pessoa leva com tanta merda, às vezes, e nunca acontece nada, que quando finalmente alguém faz alguma coisa e há consequências, sentimo-nos mal, porque não queremos prejudicar ninguém. Mas, foda-se, eu não só não fiz mal a ninguém, como não tinha que ter levado com aquilo, nem ser tratada daquela maneira. Ninguém tem o direito de andar com uma pessoa ao estouro. Por muito stressado que o empregado estivesse, não tinha sequer que me ter tocado com um dedo, quanto mais daquela maneira. Eu também estava a trabalhar, ainda por cima no estrangeiro, nem sequer me conseguia explicar na língua dele, nem me podia passar, por estar a trabalhar e ter uma postura a manter.

Não sei o que se passou na cabeça do empregado, se é sempre assim ou se estava num dia mau. Sei que, se tivesse sido um dos meus irmãos no meu lugar, aquilo tinha dado molho na hora. Não sei se o empregado teria feito o mesmo, se fosse um homem no meu lugar. Sei que se tivesse sido com o meu patrão, ele não teria ficado calado. Sei que situações de merda como estas têm de ter consequências, ou nunca nada vai mudar, o problema é que raramente têm. Sei que, apesar de tudo, me continuo a sentir mal pelo empregado, e com o que lhe possa vir a acontecer, mas dado tudo o que se passou e que fez a situação escalar, o mais provável é não acontecer nada. Mas, se acontecesse, seria justo, mas se é justo, porque me continuo a sentir mal?

2022: das crises existenciais à aceitação

Coisas de que me apercebi este ano: nunca mais volto a ser tão jovem como agora. A partir daqui é sempre a piorar. As brancas já começam a ser demasiadas. Com que idade é que, geralmente, as mulheres começam a pintar o cabelo para as disfarçar? Tenho de arranjar maneira de lidar bem com o envelhecimento, acho que me esqueci que o tempo passa para toda a gente e que a juventude não dura para sempre.

O ano de 2022 começou muito mal. Primeiro o ghosting do outro idiota. Depois o meu patrão, que andava insuportável e me tratava mal, pondo-me a rezar para que o estágio acabasse rápido. Entretanto, ele acalmou, o estágio acabou e eu continuei a trabalhar lá, mas agora com contrato. Também levei algumas facadas e afastei-me de alguns amigos.

Mas nem tudo foi mau. Comecei a aprender alemão, objectivo que tinha traçado para este ano, fui ao Alive ver Florence and The Machine, passei o meu aniversário em Lisboa com uma grande amiga. Dei um saltinho à Madeira, em trabalho, uma viagem de 24h, e fiquei com muita vontade de voltar. Fui passear a Zamora e a Salamanca no Verão e compensou muito. Deixei de esperar por companhia para poder fazer coisas que queria fazer, como ir a concertos, por exemplo. É tão bom não estar dependente de ninguém. Ainda não foi desta que dei uso à carta de condução, nem que fui para fora, embora a vontade continue a ser muita. Também pus, finalmente, aparelho nos dentes, há anos que o queria fazer. Daqui a 11 meses tiro e tenho a certeza de que me vai ajudar a ganhar um bocadinho mais de confiança e a sorrir à vontade, sem ter sempre o reflexo de tapar a boca.

2022 foi também um ano de muitas crises existenciais, mas daquelas lixadas de me porem a questionar tudo e me fazerem chegar à conclusão de que não há sentido em nada e que não estou aqui a fazer nada. Tem me acontecido muito a cena de sentir que não vivo, que as coisas que me acontecem, não me estão a acontecer, que sou incapaz de absorver as experiências que vivo, no momento. Que não retenho nada do que experiencio e que não sou capaz de desfrutar de nada. Também ainda não foi desta que fui a um psicólogo. Se calhar, uma boa resolução para o novo ano seria começar a perceber que não posso depender de mim para tudo, aceitar ajuda às vezes é necessário e está tudo bem, não sou menos por isso.

Para quem me leu este ano, muito obrigada. Não imaginam o quão terapêutico é vir aqui escrever. Poderia continuar a fazê-lo num simples documento word, mas não é de todo a mesma coisa. Saber que há alguém que, em dado momento, me lê e que, por vezes, até comenta com palavras encorajadoras e conselhos, aquece-me a alma e ajuda-me a seguir caminho.

Um bom ano para todos.

Dilema estúpido

Vivo sempre num misto de "posso morrer amanhã, por isso vou fazer isto hoje" e "o que vai ser de mim no futuro, se fizer isto ou aquilo agora". Sofro muito por antecipação. Penso sempre nos prós e nos contras de tudo antes de fazer alguma coisa, mas nem por isso vivo melhor. Sinto que me limito muito, às vezes, sempre com medo das consequências, sejam elas boas ou más.

Graças ao meu trabalho, cruzo-me com muita gente. Um dia destes, cruzei-me, pela segunda vez em três meses, com um moço. No mesmo evento, ele estava a prestar o serviço dele e eu o meu. Houve ali qualquer coisa ou então é só alto filme da minha cabeça por, pela primeira vez este ano, ter tido alguém a reparar em mim. Eu sei que obceco como forma de escape à minha vida, como distração, como forma de dar algum entusiasmo aos meus dias, e tenho plena consciência de que era esse o caso, mas...

Descobri-o nas redes sem querer (juro) e cusquei tudo o que havia para cuscar. Acabei a achar-lhe muito graça. Tem sentido de humor, a profissão dele é altamente e ele adora-a, não somos da mesma cidade e a diferença de idades é considerável. Queria adicioná-lo, mas tenho medo que, da próxima vez que nos cruzarmos em trabalho, seja super constrangedor. Duas coisas que me fritam: passar vergonha e ser ridícula. E estou a sê-lo agora, eu sei. Se o adicionar, a minha cabeça acalma, mas só se ele me ignorar é que esqueço isto. Acho que é isso que temo, que ele não me ignore e meta até conversa.

Não faço nada e continuo a matutar, sem saber quando é que isto me vai passar, ou vou em frente, sabendo que isto pode vir a resultar em constrangimento futuro? Que dilema estúpido, pá, no fundo quero adicioná-lo, mas não quero reacção da parte dele, com medo do que possa advir daí. Como se tivesse visto o futuro e soubesse que a brincadeira vai correr mal. Não estou bem, claramente.