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Lazy Lover Undercover

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Segredos

Sou um túmulo. Os segredos dos outros não saem de mim, apesar de já pesarem bastante. Com os meus tenho outra liberdade. Mas se há segredos que demorei 15 anos a conseguir revelar a alguém, e que explicam parte da minha personalidade e dos meus traumas, há outros que continuam enterrados e nem o álcool um dia será capaz de mos fazer revelar. Há coisas que magoam mais depois de contadas, até lá vão ficando meias adormecidas, como se não fossem verdade.

Cabo Verde tem encanto

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Viajei para Cabo Verde e que bofetada gigante levei. Foram duas semanas na Ilha de Santiago, em duas cidades diferentes, a viver uma realidade distante da minha: a escassez de água e de comida, o povo que, quanto menos tinha, mais nos dava, as paisagens de cortar a respiração, o funaná que tocava de manhã à noite, as batucadeiras enérgicas, as tartarugas enormes a desovar, os milhares de coqueiros e bananeiros que acompanhavam as viagens de hiace, e a sintonia entre vacas, porcos, cabritos, cães, burros e gatos.

 

Foram duas semanas que podiam ter corrido muito mal, mas que correram muito bem. O primeiro dia em Santa Cruz foi um choque cultural enorme. Apesar de todos os avisos, não ia preparada para o que encontrei. A zona onde fiquei era bastante pobre, havia carradas de construções, em fase inicial, ao abandono, dezenas de cães vadios em estado de magreza extrema e mal tratados e muitos miúdos de rua. Apesar de tudo, Santa Cruz tinha lugares lindíssimos, a praia era de areia preta e as crianças eram umas fofas e ficavam impressionadas com a cor da nossa pele e com o nosso cabelo e queriam sempre tocar-nos e fazer-nos tranças.

 

No Tarrafal já foi tudo diferente. Já não víamos as crianças e os animais como havíamos visto em Santa Cruz. A cidade estava mais bem tratada e em termos turísticos estava bem mais desenvolvida. O principal ponto de visita era o Campo de Concentração, para onde eram enviados os presos politicos no tempo da ditadura, e a praia, que tinha como fundo a montanha Graciosa, em forma de elefante. 

 

Ainda assim, o que me conquistou realmente em Cabo Verde foi a música. Respira-se música lá! E não falo do funaná, falo dos ritmos quentes, falo dos guitarristas que deixam qualquer um abananado, caramba, eu ficava lá, só para poder assistir a actuações daquelas.

 

Hei-de voltar e até mais cedo do que imagino.

 

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